Tudo é triste no fim

Quando a noite começa a chorar, um espírito de tristeza me contamina. Tento me animar, mas o sentimento que invade meu ser agora é triste. Tudo é triste no fim. Posso ratificar meu pensamento fúnebre observando a noite tenebrosa. Tenho comigo hoje uma carga de desespero, a vida me coloca em lágrimas infinitas.

Sentado no meio-fio da calçada úmida, penso nas peripécias que o meu coração se negou a viver. O ser humano é covarde e ínfimo nos seus próprios sonhos. Quando perdemos aquilo que nunca esteve em nossas mãos, derramamos tédio e decepção em nossa mente módica.

Acendo um cigarro e ao meu lado uma garrafa de vinho cheia pela metade. Vinho caro e importado. Nos meus bolsos rasgados, charutos cubanos. Aprecio o melhor, porque sou a pior das criaturas viventes.

Meus dias eu cansei de gozá-los, eles são como nuvens negras que correm para lugar algum. Não falo sobre o amor porque sei que este sentimento é apenas uma invenção, que não funciona para todos os seres humanos. Sou ateu convicto em questões amorosas.

Estou casado com a minha própria companhia.

Os meus desejos não me desejaram, estou estático, pois, o frio me intimida espetando minha alma abatida.

Céus! Sou apenas um bêbado declamando meus medos. O mundo é para ser explorado. A vida é para ser amada. Os livros devem ser lidos, e a paixão necessita atiçar os mortos.

Quantas palavras hostis eu falei para quem eu tentei fazer feliz. Quantas palavras solícitas eu guardei por receio de parecer néscio.

Paulatinamente, as nuvens arroxeadas se dissipam no céu melódico. Um avião visita o horizonte oculto, relâmpagos riscam o espaço.

A vida trilha os seus próprios caminhos. Meu coração é único e intocável. Sem saída, sou abordado por dois policiais robustos. Eles gritam e me puxam bruscamente pelo braço.

- Seu bêbado, porra! Saia daqui!

A garrafa de vinho agora quase vazia está em cacos. Um dos policiais a espatifou em minha cabeça miúda. Minhas têmporas estão abertas feito estradas alagadas pela chuva. Onde estão os meus charutos cubanos? Estão no chão, pisados como baratas de esgoto. Eu apenas gostaria de experimentá-los. Impossível.

-Sorria seu bêbado!

Abro um sorriso descontente. Recebo de braços abertos dois tiros no peito. Deitado no meio-fio da calçada, o dia que necessita nascer, sorrir. O sol morto não reluz, a chuva me abraça. Serei notícia de jornal. Estou pronto para o encontro com o Criador. Sem medo, mas, com um olhar cínico perguntarei para a nossa majestade divina das almas soturnas:

- Deus, por que tudo é triste no fim?

Mayanna Davila Velame
Enviado por Mayanna Davila Velame em 01/06/2008
Código do texto: T1015199
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