Um sonho, um desejo

Estava sentada em frente à TV, numa noite de sexta-feira, repetindo aquele ritual de todas as noites de sextas-feiras anteriores. Cansada de mais uma semana de correria, trabalho e dedicação aos filhos e ao marido.

Um calor que fazia o suor escorrer em minha face. As crianças, cansadas de mais um dia de muitas brincadeiras e brigas, brincavam à minha frente, no chão da sala de TV, montando joguinhos, disputando quem montaria melhor o seu jogo.

A inquietação e o descontentamento me dominavam, pois, mais uma vez, ele se atrasara para o jantar, prolongando, como sempre, seu horário de trabalho.

Nesses momentos de espera, uma sombra de dúvida me dominava: será que realmente ele estaria trabalhando até aquela hora? Ou será que algo ou alguém lhe prendia a atenção? Pois, nesses dias, ele chegava em casa sempre muito cansado e irritado. Mal olhava no meu rosto. O beijo de "boa noite" apenas cumpria uma obrigação cotidiana. Tomava seu banho com as crianças lhe aguardando do lado de fora do banheiro, cheias de espectativas quanto aos carinhos e às novidades que o papai traria. Lia seu jornal, jantava reclamando da comida e se recostava no sofá, dormindo logo em seguida.

Sequer podíamos fazer planos para o final de semana, pois a rotina e o cansaço nos dominavam.

Mas, nesta sexta-feira, algo mudou, e muito. Entre um suspiro aflito e outro ouvi o telefone tocar. Corri para atender, achando que podia ser minha mãe, ou uma amiga querida. Era de uma joalheria, confirmando o endereço de nossa casa. Forneci as informações necessárias e desliguei o aparelho de telefone. Sufocou-me uma angústia e um desespero enormes. Quem poderia ter dado nosso endereço e telefone nessa loja? Talvez ele tivesse comprado uma jóia para "ela", mas, ela quem? Para mim não poderia ser, pois isso não havia acontecido desde minha formatura, logo depois que nos casamos.

Fiquei muito aflita e não pude esconder este sentimento de meus dois filhos, que logo me rodearam e solicitaram minha atenção.

Aqueles trinta minutos subsequentes foram eternos.

Passados esses minutos, ouço a chave na porta. Não pude sequer levantar do sofá, tamanho era meu desespero. Quando olho para a porta, eis que ele entrou e muito sorridente, com ar maroto, veio ao meu encontro:

- Sabe, meu bem, há muito que não temos um momento especial, só nosso. Já combinei com sua mãe, as crianças vão dormir na casa dela, enquanto vamos fazer um programa só nosso. Iremos a um barzinho, como nos tempos de namoro, depois iremos ver o sol nascer, aonde você quiser. Mas, com uma condição: só iremos se você usar isso.

E, com a mão estendida, entregou-me uma caixa.

Assim que a abri, não pude conter a emoção e me desfiz em lágrimas.

Parece que temos a tendência de só enxergarmos o mal, quando estamos aflitos. A jóia era para mim, e eu, do contrário de como imaginei, merecia-a sim, pois ele continua me amando, apesar da rotina, dos dissabores e das dificuldades do dia-a-dia.

Foi uma emoção imensa e uma noite maravilhosa, inesquecível.

Gostaria realmente que este sonho se realizasse.

Nádia Maria
Enviado por Nádia Maria em 13/06/2008
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