Terço Junino

Me lembro como se fosse hoje, meu amigo Jorge Pimenta, mecânico de motos e pescador me chamou para ir rezar um terço na casa dele, pois ele tinha promessa de todo ano, no mês de junho rezar um terço para Santo Antônio, São João e São Pedro, como forma de agradecimento por uma graça recebida.

Ele convidava muitas pessoas, e cada uma levava uma prenda, pratos típicos para todos comerem, como manda a tradição.

Tinha bolo de mandioca, pão de queijo, bolo de fubá, broas de milho, pão de côco, pé de moleque, uma fartura danada.

Eu, como de costume, levei um litro de cachaça para fazer o quentão, um litro de vinho para o vinho quente e um para eu poder tomar ao natural.

É tradicional, monta-se a mesa na entrada da casa e reza-se o terço nos fundos. A mesa estava bonita e estava pequena para tanta variedade de quitutes.

Ele chegou e chamou todos para os fundos que o terço iria começar.

O terço é demorado, reza-se vários Pais-Nossos e várias Aves-Marias, que uma senhora, geralmente mais velha, vai contando no rosário.

Só que enquanto a gente rezava, passaram uns moleques, todos de bicicleta, e viram aquela mesa gigante cheia de guloseimas dando sopa e começaram a devorar tudo, pegavam as bandejas e despejavam o conteúdo dentro das camisas e saíam correndo, comendo o máximo que podiam.

Terminada a reza, estouramos duas caixas de foguetes, dando viva para os três santos juninos e fomos de encontro às quitandas e às bebidas.

Chegando na mesa, foi uma decepção, só tinha farelo e alguns pedaços de rosca que a molecada resolveu não levar, sorte que o quentão e o vinho estavam guardados dentro de casa.

Porém o Jorge Pimenta não ficou bravo e tampouco aborrecido, pois disse que o verdadeiro espírito da festa junina é repartir o que se tem com os outros.

E foi uma lição que não me saiu mais da lembrança.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 18/06/2008
Código do texto: T1039743
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