RESUMO DO DIA

Depois de tantos altos e baixos, cheguei à conclusão inevitável de que a vida é mesmo um “Grande Barato”, uma piada de Deus e a única coisa que podemos fazer é dar risada e aplaudir!

Uma vida cheia de surpresas, nunca se chegando ao tal “lugar comum”, desde pequena Marilda se vê envolta num turbilhão, parece tão pouca vida para tantas vivências...

Com seis anos teve que descobrir por conta própria como lidar com a ausência do pai e a falta de juízo da mãe, em conseqüência do divórcio dos pais. Hoje com quarenta anos, ela sabe que isso seria o menor de seus problemas.

Acontece que sua mãe tinha distúrbios psiquiátricos, entre alguns o que mais a marcou, foi a mãe ser maníaca por sexo, mas essa estória é outra.

Depois foram os acidentes, contando os mais graves, totalizam quinze, foi difícil se tornar adolescente e adulta num terreno tão propenso á “terremotos”, mas, tornou-se, com tantas coisas para marcar, a característica mais marcante em sua personalidade hoje em dia é a “teimosia”.

Mas o que pesa mesmo, que até hoje é um mistério a ser desvendado é vivenciar o amor entre um homem e uma mulher... Sublime inferno!

Prestar três vezes o vestibular e conseguir se formar, não assustou Marilda, casar duas vezes, não assustou Marilda, ter passado por uma internação psiquiátrica para aprender a “elaborar” toda a “merda” de sua vida, não assustou Marilda, ser mãe de meninos gêmeos e cria-los sozinha, não assustou Marilda... Se bem que tirar habilitação e dirigir aos 40 isso ainda assusta e muito!!!. Mas... Como o Amor assusta, veja bem que não paralisa, mas assusta!

A cada naufrágio de seu “barco do amor”, Marilda se imaginava incapaz de amar novamente, passava-se meses para lamber as feridas, juntar os cacos e sacudir a poeira, mas depois da segunda vez, ela descobriu-se dona de uma armada de “Navios - do - Amor”, e vamos navegar!

Não se prostituiu em nome da capacidade regenerativa, que fique bem claro, mas que não passou vontade, isso é fato! Também é dona de um estoque limitado de paciência, embora o senso de humor supere essa carência, e isso se refletiu em seus relacionamentos amorosos, nunca conseguiu manter dois ou mais relacionamentos ao mesmo tempo, não por preconceito ou pudor, mas verdade seja dita... Por pura falta de paciência!

Mulher bendita para amigos e alguns homens que compartilharam sua cama, e maldita para os que a amaram e os que ela amou, e isso a incomoda, pois seu raciocínio lógico não traduz essa postura, e ela não consegue racionalizar o amor em sua vida... Que sina!

Mas aos quarenta anos Marilda acredita ter encontrado o equilíbrio emocional, tem um relacionamento amoroso e saudável com os filhos, e tem um homem... UAU!!!!

Mas quem disse que ela tem “um homem pra chamar de seu”??? É Casado!!! Marilda não gosta de chamar de “caso”, esse termo soa muito “degenerativo”, ela prefere acreditar que encontrou “O Cara”.

O casamento dele já era uma “fachada” desde muito antes deles se conhecerem, ele estava com 49 e ela com 37 quando se conheceram, isso se deu através de amigos, foi identificação a primeira vista, engraçado como esse japonês a fazia falar e rir e como ele era bom de papo!

Kazuo não era o que Marilda chamaria de “Um tipão” era japonês! Ela nunca sentiu atração por tipos orientais, mas essa amizade lhe fazia muito bem, Kazuo era um homem muito carente e lhe agradava ouvi-lo contar sua vida, suas viagens, suas mágoas, ele ainda amava muito a esposa, mas esta já não sentia atração física por ele há mais de cinco anos, e isso foi esfriando muito o relacionamento deles em casa, ao ponto de dormirem na mesma cama ocasionalmente, mas sem se tocarem, conviverem sob o mesmo teto, mas sem se falarem, e embora tenham filhos, estes já são adultos, teêm vida própria, lhes basta aquele egoísmo próprio dos filhos de verem os pais ainda casados e morando na mesma casa.

Em nome desse amor que ele ainda sentia pela esposa, quando o “tesão” lhe maltratava o corpo, marcava uma pescaria com os amigos em alguma cidade distante no interior e pimba...aproveitava para dar uma passadinha no puteiro mais próximo. O problema é que o ser humano precisa de companhia, de uma pessoa com quem possa rir, contar como foi o dia, falar mal dos colegas de trabalho... E isso não dá pra fazer com as “tiazinhas”, afinal elas ganham por produção, não dá tempo de bater papo!

Foi assim que Marilda conheceu Kazuo...Foi assim que Kazuo conheceu Marilda!

Ficaram amigos durante mais de um mês, Kazuo freqüentando sua casa diariamente, chegava por volta dás 20:00 h. e ficava até 03:00 h aproximadamente, sentados na mesa da cozinha conversando sobre suas vidas e Marilda preparando litros de café, ou, nos dias mais quentes bebericando uma cervejinha.

Marilda estava sozinha, sem nenhum amor há uns seis meses, portanto, sem sexo á uns seis meses, e é obvio que também conversaram sobre isso...Kazuo disse que já fazia mais tempo pra ele, mas não disse quanto mais, o fato é que começou a “curiosidade” por parte de ambos, Marilda já não era mais indiferente á beleza masculina de Kazuo, e este já a olhava mais atentamente.

No aniversário de um amigo em comum (um daqueles que proporcionaram o encontro) os dois beberam um pouco além e perderam o receio de se tocarem, aconteceu o primeiro beijo...Engraçado como o tempo pode passar, mas o primeiro beijo é crucial e inesquecível, mesmo pra uma mulher racional como Marilda, esse resquício de romantismo é fundamental...Foi um beijo tímido, mais uma curiosidade do que atração, mas inflamou-se! Nossa que surpresa, como esse japonês beija gostoso!! Óbvio onde acabou a noite...

Houve problemas nesse relacionamento é claro, considerando que Kazuo está em um casamento difícil de dissolver...considerando que Marilda não está considerando a hipótese de um terceiro casamento, mas levando em conta que a esposa de Kazuo sabe da existência de Marilda e até apóia o relacionamento, desde que este permaneça casado com ela!

Marilda também nunca se imaginou numa situação como essa, era radicalmente contra relacionamentos com homens casados, ainda mais agora que é mãe, mora em cidade pequena,...

Mas quando Kazuo chega à sua casa todas as noites e a beija com aquela boca de saudade, acarinha seus filhos e vai para a cozinha tomar café e conversar enquanto Marilda lhe põe o jantar, então ela vê nessa cena quotidiana a receita exata do que deve ser um casamento feliz.

Nessa hora eles conversam e resumem seu dia um pro outro, e o dia só termina após esse encontro, após o jantar assistem um pouco de TV, Marilda arruma a cozinha, coloca as crianças na cama e os dois vão para o quarto.

E todas as noites fazem amor como dois náufragos, quando se deitam e se abraçam, a paixão os domina e simplesmente deixam que seus corpos conversem, é uma explosão de risos e carinho, toda a amizade e o tesão que sentem um pelo outro realiza neles o milagre de renovarem seu desejo todas as noites...Fazem amor como duas crianças descobrindo o sexo, não existe culpa, não existe obrigações e nem cobranças, quando a porta do quarto se fecha o mundo é só deles e nesse mundo só existe risos e carinho, serenidade e paixão, amor e amizade... É o resumo perfeito de como deve ser um relacionamento amoroso.

JUNO
Enviado por JUNO em 25/06/2008
Código do texto: T1050556