Ao Chegares em Casa

Ao chegares em casa, a noite já terá revelado toda feiúra da ruazinha estreita. Seus passos serão pequenos, morosos, como se degustando a sensualidade das pedras ainda tépidas. Talvez pesará nos teus bolsos um fragmento de preocupação nascido no dia que extingui-se suavemente. Não acenderás as luzes, teu sentido o guiará pela escuridão. Farás teu próprio café, se café for o teu vício, e o tomará sozinho, sentado em uma cadeira de assento desprazível, e desprazível espaldar. Ao observar a noite, chorarás um pranto contido e ameno. No momento em que as lagrimas umedecerem teu lábio superior, te arrependerás de toda a tua vida. Contudo será tarde, tarde demais.

Lá fora um triste vira lata ladrará para o indizível. E o vento levará embora os sonhos, feito pequenos pedaços de papel que alguém jogou perto da esquina.