Amizade 171.

Conta-se aqui, na pequena cidade interiorana em que vivo, que existiam dois jovens amigos, próximos da maioridade que sonhavam com luxo e riquezas.

Dizem que eram muito inteligentes, porém, com nenhuma disposição para o trabalho honesto.

São narradas histórias de que certa vez, venderam um lindo cavalo para um senhor, dono de um sítio, e o tal cavalo amanheceu caído dentro do córrego, e que depois, quando foram conferir, o cavalo era totalmente cego, e que quando o comprador foi reclamar do defeito do semovente, ouviu:

_Senhor Joaquim, antes de vendermos para o senhor, ele enxergava muitíssimo bem, até relinchava quando olhava uma égua bonitinha...

Um dia, os dois amigos acharam que a cidade estava pequena para eles, e leram nos jornais notícias sobre a construção da nova capital do Brasil, que frisavam que Brasília era uma terra de oportunidades e que mostrava os altos salários dos operários.

Os dois amigos pegaram um transporte e foram parar em Brasília, porém, quando lá chegaram, viram que o trabalho era pesado, o serviço era de servente de predreiro na construção civil, exigia que se trabalhasse subindo altos andaimes, etc...

Não demorou, as mentes brilhantes armaram um plano: Compraram fígado bovino em um açougue e amarraram na perna de cada um, cortavam as calças no local do fígado ensanguentado e sentaram-se em um ponto de grande movimento da grande cidade em construção e contavam histórias aos transeuntes:

_Me feri, pois caí de uma obra e fraturei a perna, estou praticamente inválido e tenho filhos para criar, sou pai de família e não tenho como trabalhar...

E assim, recebiam gordas esmolas dos endinheirados trabalhadores que construíam a nova cidade, pois estes se solidarizavam ao ver as feridas sob as calças sujas de sangue, em que pousavam várias moscas.

Em poucos meses, juntaram dinheiro suficiente para comprarem um caminhão, pegaram o bruto e rumaram de volta para sua cidade de origem, ostentando o grande troféu de seu "trabalho" na cidade projetada por Niemeyer.

Aqui, começaram a transportar verduras do Ceagesp para outros Estados e outras cidades, porém, abriram uma conta corrente e começaram a distribuir cheques por toda praça em que passavam.

Um comerciante daqui da cidade, colecionava cheques dos dois novos caminhoneiros e um dia ficou sabendo que os dois estavam vendendo o caminhão, para saldar as dívidas.

O comerciante, se mostrou interessado em comprar o caminhão e perguntou aos dois se aceitariam o pagamento em cheques, e os dois disseram que sim, mas que precisariam ver os tais cheques.

Quando o comerciante apresentou os cheques que os dois malandros haviam passado, disseram quase que em coro:

_Não, Senhor, estes cheques nós nos recusamos a pegar, pois podem não ter fundos.

Hoje os dois malandros ainda estão vivos, e vivem nas proximidades das lotéricas, revendendo bilhetes de loteria e fazendo um joguinho de bicho aqui, e uma corretagem acolá.

E assim, todos nós vamos aprendendo que na maioria das vezes, a desonestidade acaba por derrubar as oportunidades.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 21/07/2008
Reeditado em 21/07/2008
Código do texto: T1090247
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.