Um ano em Pereirópolis XXII - "Faroeste"

Eu não sou uma pessoa notavelmente curiosa. Assim, mesmo que eu tivesse alguma vontade de saber – mesmo que isso não viesse ao caso – preferi deixar que o assunto viesse naturalmente. Foi desse jeito que descobri sobre a pequena empresa do Seu Horácio, e o motivo que o levou a enveredar nesse ramo de negócio.

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Eu, assim como boa parte dos pereiropolitanos, sou tão rural quanto urbano. Minha casa hoje fica no Bairro Guarany. Até alguns anos atrás, ainda era Linha Bonita, e ficava na zona rural; agora, chama-se Rua Araçá, e está na área urbana. A cidade é que cresceu para esse lado. Mesmo gostando muito do campo, da vida tranqüila com minhas galinhas, meus coelhos, meus porquinhos-da-índia, sempre apreciei coisas que há na cidade.

Uma delas é o cinema.

Desde piá, quando podia, dava um jeito de ir ao cinema. E como era bom! Como eu fiquei encantado com os grandes atores de Hollywood! Aos quinze anos, me apaixonei pela Audrey Hepburn, de quem abri mão apenas pela bela prendinha Amália Fogaça, com quem me casei. A propósito, foi assistindo Bonequinha de Luxo que eu a conheci – a Amália; a Audrey eu já conhecia – cercada por meus cunhados, meu sogro e minha sogra.

Eu, o Ernesto e o Figueira Pequeno, o caçula do Figueira Velho, passávamos as tardes das férias assistindo aos filmes de faroeste das matinês. É claro que tínhamos muitas reservas quanto aos roteiros – e em alguns casos, imaginávamos como seria possível melhorar algumas histórias. Quando voltávamos para casa, “encenávamos” nossos roteiros, trocando alguns personagens por outros mais familiares ao nosso mundo. Apesar de que os caubóis são meio gaudérios, não é?

Pois, de tanto gostar de cinema, logo que o videocassete virou uma epidemia, nós três juntamos nossas economias – o Figueira Pequeno bem mais generosamente que eu e o Ernesto, é verdade – e abrimos a primeira videolocadora de Pereirópolis. Por falta de um nome, ficou apenas Vídeo Clube. Com o tempo, meus dois sócios foram-se cansando do trabalho de “bolicheiros”, para o qual eu tinha mais tino que eles. Comprei a parte deles na sociedade em prestações a perder de vista, as quais eu nem lembro mais se paguei ou não.

Até hoje nós nos reunimos, pelo menos uma vez por semana, para assistir filmes, falar mal de Hollywood e do cinema americano, das falhas nos enredos, para comer e beber. E, sempre que o tempo permite, pegamos nossos cavalos – sim, nós ainda temos cavalos – e seguimos, sem pressa, na direção do sol poente.