AMOR DE MÃE

Queria porque queria ser mãe. Pensava nisso o dia todo. Não conseguia dormir a noite. E quando conseguia, acordava de madrugada. Tinha desejos. E nem grávida estava. Aliás, nunca havia estado.

Mês sim, mês não, resolvia reformar o quarto do bebê. Na rua, tinha inveja daquelas mulheres que desfilavam com seus barrigões. E raiva das mães que passeavam com seus bebês. Aquele sonho de menina tinha virado obsessão.

Espantava namorados. Homem nenhum queria saber dela. A não ser os vasectomizados. Mas desses aí, era ela que não queria chegar perto. Sua vida girava em torno do bebê que não existia.

Resolveu dar para o primeiro que aparecesse. E para o segundo. E para o terceiro. E nada de engravidar. Pensou em adotar, mas não seria sangue do seu sangue. E deu para o quarto, para o quinto e para o sexto. E nenhum óvulo fecundado. Deu para o sétimo, para o oitavo, para o nono, para o décimo terceiro, para o vigésimo, para o vigésimo oitavo. E nada da barriga crescer. Pelo contrário. O exercício era tanto, que ela só emagrecia.

Catarina pegou gosto pela coisa. Passou a dar para qualquer um. Não importava se o cara era branco, negro, mulato, alto, baixo, anão, perneta ou banguela. Se era gordo, magro, vesgo, cego, surdo ou mudo. O que importava era dar.

Ser mãe deixou de ser uma obsessão. Catarina finalmente tinha descoberto que ser filha da mãe dava muito mais prazer.