Desencontros de Carnaval.

Ele acordou com os primeiros acordes do bloco que vinha avançando a rua onde morava. Foi à janela e avistou um pequeno grupo de adultos com suas crianças fantasiadas e alegres no bloco. Cantavam marchinhas (que ele conhecia) ao som da banda que aproveitava para chamar os foliões. Acendeu um cigarro e resolveu permanecer ali olhando aquela folia inocente. Relembrou de sua infância quando também brincava em blocos (agora adulto não vinha se permitindo uma série de coisas. Por quê?). Lembrou-se das fantasias que usou: o pirata, o índio, o grupo de Clóvis que num carnaval formou com os colegas.

De repente percebeu um grupo de moças fantasiadas de bailarina, mas o seu olhar foi atraído por uma máscara de plumas e paetês que reluzia ao sol. Apesar da máscara impedir de ver o rosto da bailarina, não pode deixar de se encantar com aquele olhar que o acompanhou por algum tempo e que acenou para ele.

Pensou em descer para encontrá-la, mas entre a dúvida e vontade, quando resolveu que ia fazê-lo, viu que o bloco já se afastava e que as bailarinas já haviam sumido e ela havia sido levada pelo bloco. Tarde demais! Do bloco só restou o chão coberto de confetes e serpentinas.

Quem seria ela? Aquele olhar... O dia passou e ele vez ou outra se lembrava dela.

No dia seguinte, domingo de carnaval pensou que o bloco passaria novamente sob sua janela (estava pronto para se deixar levar!), mas não aconteceu. O bloco não veio.

À tarde na volta da praia, viu um bloco avançando pela orla. Era tanta gente! Ele resolveu esperar a passagem do bloco bebendo uma água de coco. Será que a bailarina iria aparecer? Será que ele iria descobrir aquele olhar no meio da multidão? Sabia que seria quase impossível encontrar alguém ali e por mais que olhasse não via nenhuma bailarina mascarada.Quando já ia desistindo passou um grupo de drag-queens que tentou arrastá-lo, mas ele resistiu e quando percebeu que junto deles, ia uma colombina que ao avistá-lo, o reconheceu, acenou e logo como fugindo, ou brincando de se esconder se misturou à multidão e em vão foi sua tentativa de encontrá-la. Mais uma vez, ele a perdeu de vista.

Afinal, porque sumia? Por que o provocava?

O carnaval passou e apesar de vez em quando se pegar pensando naquela moça, naquele olhar achou melhor considerar uma brincadeira de carnaval e esquecer.

Passado uns dias, numa manhã saindo para o trabalho, viu surgindo em sua direção, um carro com uma jovem que buzinou e acenou. Ele dirigiu-se ao carro, acreditando ser alguém em busca de informações quando para sua surpresa ele teve certeza que conhecia. Era ela. Ela, para não deixar nenhuma dúvida, tirou do porta-luvas a máscara que cobriu seu rosto e só deixava à vista seus olhos e aí ele não teve dúvidas. Trocaram algumas palavras, ela o convidou a entrar no carro. O carro partiu e eles foram conversando e sorrindo. Agora sem máscaras, mistérios ou desencontros.

Wanda Recker
Enviado por Wanda Recker em 27/02/2006
Reeditado em 27/02/2006
Código do texto: T116695