OLEIRO

Sentado, na mesa do torno, apoiando o corpo com o pé esquerdo e movimentando o torno com o pé direito, eu tentava pela enésima vez, fazer com que o bolão de barro tomasse a forma de uma panela.

Essa peleja durou mais de mês...

O barro tinha que ficar de molho por vários dias...

Tirávamos uma porção grande como os sacos de feijão da venda de seu Hilton e colocávamos na mesa de “bater”.

É um processo lento, que exige força. Muita força mesmo, para manejar o ferro, um pedaço de vergalhão com mais de metro que, ao bater, vai fatiando o barro que depois, recebe mais água e é pisoteado e que volta para a mesa para ser batido várias vezes até que esteja homogeneizado.

Depois são destacados pedaços menores que são trabalhados à mão, para serem retiradas as impurezas, como folhas, pedrinhas, pedaços de madeira.

Reúne-se tudo e bate outra vez.

Separam-se porções pequenas nas quantidades necessárias para a confecção do que se quer moldar.

Tem que manter tudo úmido...

O que não está sendo trabalhado cobre-se com pano molhado.

Uma bolinha por vez é colocada no torno que em movimento circular, facilita a confecção das peças (depois que se sabe fazer).

Molham-se as duas mãos, coloca-se sobre a bola e com os polegares, força para dentro e ao mesmo tempo para baixo para dar forma de cuia. Agora com os quatro dedos do lado de dentro e o polegar do lado de fora, segura a parede com firmeza, vai unindo os dedos e puxando a massa para cima.

O barro bem batido fica obediente e as peças vão aparecendo uma a uma, mas até desenvolver a coordenação motora para movimentar o torno na velocidade adequada e fazer a pressão correta, muita parede arrebenta e o serviço tem que recomeçar...

Depois do primeiro acabamento retira-se a peça, cortando o fundo rente ao torno, com um fio de nylon ou arame e coloca-se para secar por dois dias, em local ventilado e na sombra.

As peças voltam ao torno para o acabamento com a pedra de brunir (assim fica impermeável).

Forno à lenha por doze horas e a peça finalmente está pronta para ser usada.

Guardei durante muito tempo o primeiro pote bojudo e de boca estreita, com tampinha e acabamento esmerado que fiz e que seu Paizinho (oleiro do Engenho Uchoa) disse depois de observar:

- Está certo. Você conseguiu. Você é um menino danado!

Encheu o pote com mel de engenho, selou a tampa com cera de abelha aquecida e disse:

- Leve para sua mãe...

Foi um dia inesquecível...

Eu tinha aprendido uma das mais antigas profissões da humanidade, graças à paciência de um homem simples e de boa vontade.