No porão de meu Peito

Estranho não era ter aquela sensação, estranho sim era não entender o porquê de aquele moleque te despertar medo, medo de si mesmo.

Maldita hora em que foram se mudar para cá... Malditos!

Nunca lhe passou sequer cumprimentá-los, principalmente o garoto, jeito tímido e de pouca conversa, adentrava a padaria, escolhia, pagava e partia.

Talvez num dia de fúria tenha colocado em xeque toda uma vida, talvez sejam as bochechas rosadas, seus olhos, seus sapatos de quase-homem. – Malditos! – pensava ele.

Não queria machucá-lo, não queria tê-lo ferido, mas o fez com veemência, asquerosidade e sem nenhuma compaixão.

- Isto não está acontecendo. – sua alma grita, chora, se espanca.

Ele não respira, ele não se mexe, que “merda”, o matou, ele matou alguém... – Meu Deus, é um garoto!

O porão está tomado de sangue, sangue que corre de meus olhos, ouvidos, boca, não vê mais nada a não ser o vermelho do inferno que o corrói que o toma para si, mas o corpo ainda está lá o corpo permanece inerte a tudo, a toda sua alucinação, a toda a sua loucura, luxúria barata e assassina.

Já vê as notícias circularem como praga: “estupro seguido de morte”, “o demônio do porão”, “Matem-no!”...

– Eu não queria tê-lo matado, não queria, é mais forte que eu é mais forte... A voz... ela me queima de tão áspera... cítrica, amarga, praga.

Não pretende viver para ter seus olhos furados, sua vergonha violada, seu sangue servido em praça pública... – Maldito ! – Maldito és tu filho sem pai... agora vá... despeça deste mundo... poupe-nos do desafeto cristão. Poupe nossas mãos do cajado que pune e ao mesmo tempo protege... poupe nossas vidas.