Escritora

A menina franzina, porém voluntariosa, determinada, cheia de conceitos e preconceitos da época, lutava para se manter firme, frente ao redemoinho de censuras e críticas que assolavam a educação recebida no colégio de freiras. Ela procurava com a inteligência e sagacidade com que Deus lhe presenteou, tirar suas próprias conclusões, trilhar seu próprio caminho, conquistar o seu destino.

Vivia em uma casa grande, em cuja varanda pairavam flores de pessegueiros que surgiam em meio aos galhos de duas árvores que nasceram muito próximas à casa.

Desabrochou a menina moça com alma de artista. Falava e escrevia melhor ainda. Gostava muito de ler e se escondia atrás das leituras. Certa vez li um trecho escrito por ela, que até hoje, no crepúsculo de minha vida, repito comigo, nos meus momentos de solidão. "Houve um tempo em que o meu mundo era o céu azul e o pessegueiro em flor. Contemplando-os eu os confundia e me confundia com eles. No meu mundo sem porquês de espaço azul e de flores eu vivia intensamente e era muito feliz. Um dia, despertei e vi um mundo de brumas onde era o meu azul. Um espaço contido, um espaço sem flores, um pessegueiro desnudo. Tentei odiar a neblina mas descobri que ela ocultava as montanhas. Tão logo eu não teria aquele horizonte apertado limitando o meu olhar. E amei o meu mundo de brumas e as montanhas mergulhadas no não ser. Depois disto, tenho visto e vivido, muito tempo, no espaço azul e no pessegueiro em flor. Não tenho inveja das brumas, porque as amo também e quando a noite me rouba por muito tempo o azul, eu sei amar e me confundir com as estrelas".

Em poucas pinceladas ela se referiu à infância despretensiosa, ao turbilhão de emoções, revoltas e angústias, características da adolescência. Tempo de escolhas,de se posicionar perante a vida.

Isto tornou-se para mim, uma mensagem de otimismo, de esperança, de capacidade de superação e de aceitação das coisas que eu não posso mudar.

Foi através da inspiração dela, que resolvi também escrever, tentando expor emoções, alegrias e angústias que se tornam mais suaves quando dividimos com alguém. Hoje a escritora a que me refiro é realizada como pessoa, tem artigos, contos e textos publicados. Alguns já com direitos autorais preservados e que lhe rendem não só a satisfação de ser reconhecida, como também financeiramente. Sempre ajudou sua família, seus pais, para os quais preparou a residência confortável que existe até hoje, sede das festas e reuniões familiares. È uma pessoa vitoriosa,linda em sua maturidade, avó de quatro netos e de quem muito me orgulho. Hoje, quando a tristeza me invade, lembro-me da casa grande, do céu azul, do clima frio das Minas Gerais, e do eterno pessegueiro em flor, e penso que, mesmo distante, estamos todos juntos,sob o mesmo azul celeste, na expectativa de nos reencontrarmos, uma vez mais, nas belas festas dos finais de ano.

estefania
Enviado por estefania em 08/10/2008
Reeditado em 14/07/2012
Código do texto: T1217279