A espirituosa

A varanda da casa grande enfeitada com flores de pessegueiro formava um cenário de magia, que servia de palco para

a caçula da família. Ela iluminava tudo com seu riso e trejeitos.

O rosto denotava pura alegria e espontaneidade. No céu

brilhava o sol que inundava o ambiente de luz. Era a garota,

protagonista de cenas agradáveis que divertiam a todos. Cantava e dançava ao som de "dó,ré,'mi ouço a cantar... Fá, sol, lá si, canto sem parar... Alternando braços e pernas, num ritmo cheio de cadência e graciosidade. Lembro-me bem! Era agradável de se ver.

Daquela garota surgiu uma linda menina moça, que

com uma energia invejável, pedalava por mais de quatro quilômetros,

até o clube, em cuja piscina com água de um azul profundo, passava horas de puro deleite. Sabia como tirar da vida o que de melhor ela pudesse lhe oferecer. Até hoje rio (às vezes sozinha),ao lembrar-me de que certa vez fomos a um barzinho comprar doces. Quando a vendedora saiu para aviar o pedido, apareceu, como por encanto, um enorme cão,cuja cabeça surgiu ameaçadora, por detrás do balcão. Imediatamente ela gritou

para a vendedora. - "Suspende o doce e traz uma fralda". Era

surpreendente, espirituosa e naturalmente engraçada. Não havia quem não a admirasse.

Apaixonada pelo único irmão, certa vez corrigiu um garoto que ousava afrontá-lo. E nunca mais se ouviu falar do menino que sumiu das redondezas. A menina moça foi se tornando uma linda mulher. Trazia no rosto aquele mesmo sorriso de quem está sempre de bem com a vida. Sabia o que queria. Os problemas pareciam sem importância, quase inexistentes.

Sua inteligência, sensibilidade e sabedoria de viver eram invejáveis.

Agora, revivendo o passado percebo que o palco transformou-se em um

grande podium e aquela garotinha, bem no topo, numa linda mulher, vitoriosa

no amor no trabalho, na família e principalmente, na vida.