um homem muito esperado

Era um belo entardecer de primavera. A casa grande, a varanda, as flores do pessegueiro, que refletiam à luz do luar pareciam estar em festa. Recebemos a notícia de que o primeiro e único homem da família havia nascido. O menino cresceu protegido pelas cinco irmãs, que o consideravam também como filho. Cada uma queria vesti-lo, enfeitá-lo, passear com ele, levá-lo ao colégio. Que tormento seria estar no lugar dele. Tinha que ser valente e ele o era, o suficiente para sobreviver, sobrepujar todas aquelas mães impetuosas e de personalidades fortes. Era uma criança surpreendente e naturalmente peralta. Suas asinhas de anjo aos poucos deram lugar a “tridentes e chifres”. Este sabia como usá-los no momento certo. Naqueles lautos almoços de domingo, uma vez, ele após ter ingerido todo o refrigerante da garrafinha, encheu-a de xixi e o ofereceu para sua irmã dizendo não querer mais. Ela confiante como sempre, bebeu o líquido e só depois notou que o sabor não era bem o de guaraná. Havia sido detectado o motivo da alteração do gosto. Ele ria muito e se divertia com a expressão de incredulidade das pessoas que compunham a mesa da refeição dominical.

Lembro-me muito bem, com saudade, dos momentos em que insistíamos para que ele posasse para fotos solicitando poses cansativas, até que certa vez ele levantou o rabo do gato de frente para a câmara e a fotografia registrou mais um momento descontraído desta figura tão querida.

Inteligente, bonito, com olhos ternos e fisionomia calma ia se transformando em um adolescente com os problemas, dificuldades e angústias inerentes à idade. Às vezes se afastava, depois procurava a companhia de sua irmã preferida, com quem tinha e tem afinidades, e um especial carinho e cumplicidade. Juntos aprenderam a tirar da vida o que ela pode ter de melhor. Lembro-me com saudades daquele molequinho jogando bolinha de gude e pião. Era o orgulho de todas nós. Aos poucos o tridente e chifres característicos da infância se foram como por encanto. Educado, honesto e estudioso, dedicou-se a ler muito e estudar cada vez mais, deixando sua marca de bom caráter e personalidade, por onde quer que fosse.

Imune às interferências das irmãs que se achavam aptas a dar-lhe conselhos, ele continuou a crescer com independência e como pessoa. Confessou-lhes certa vez que, faria qualquer coisa, até vestir-se de mulher para fazer parte do “clube da Luluzinha” formado pelas cinco irmãs que, sem querer, o deixavam de fora. Com esta declaração ele se tornou ainda mais parte integrante do grupo.

E assim a vida vai passando. Gentil e generoso está sempre disposto a ajudar a qualquer uma das irmãs. Sempre atento, esteve presente em minha vida, em todos os momentos mais importantes, dando-me o apoio necessário. Sou-lhe eternamente grata por isso. Não tenho o que pedir a Deus, só quero agradecer-LHE pelo irmão com que Ele nos presenteou . Apesar dos pesares, ele transpôs barreiras, aprendeu muito, lutou e venceu.

estefania
Enviado por estefania em 10/10/2008
Reeditado em 14/02/2009
Código do texto: T1222100