Amor inesgotável

Naquele dia em especial, a casa grande e as flores do pessegueiro estavam mais iluminadas. Nascia à primogênita, rompendo barreiras e abrindo seu próprio caminho. Depois dela viriam mais cinco. Apenas um, era homem.

Desde muito cedo, sentiu o peso de ser a primeira filha. Dela esperavam muito mais do que poderia dar. Assumiu responsabilidades que não eram condizentes com sua idade. Mas, ela não conheceu só este lado da vida. Curtia o pomar, com árvores frutíferas gigantescas que se estendia da casa até o bambuzal cujas folhagens pendendo pela ação da gravidade, lambiam o leito do rio, delimitando o terreno. Para a menina, tudo era exageradamente grande e aquele espaço provocava a sua imaginação.

Certa vez ela estava brincando embaixo de um frondoso pé de café. Seus galhos baixavam até o chão, com o peso dos frutos vermelhos. Sentia-se protegida. Lá montou uma fazenda. O chuchu com quatro espetos formavam as pernas de uma vaca e mais dois palitos menores, representavam os chifres. Rapidamente a fazenda estava completa e a imaginação fluía por horas.

Era de uma generosidade extrema. Embora criança, deixou sua irmã mais nova, usar uma bolsinha a tiracolo que ela acabara de ganhar, para evitar aborrecimentos. Ela sabia que era mais forte e se quisesse usaria deste recurso. Mas não o fez. Olhando agora para o passado distante, sinto tantas saudades daquela menina trabalhadora, responsável, honesta e inteligente.

Em algumas oportunidades o Colégio onde estudava, promovia festas e os alunos eram os atores. Lá estava ela, vestida com uma fantasia de seriema e cantava: - “Oh! Seriema do Mato Grosso, seu canto triste me faz lembrar, daquele tempo que eu viajava, tenho saudades do seu cantar.”.

Era uma adolescente muito bonita. Seus olhos verdes resplandeciam como duas esmeraldas. Mas não se dava conta disso. Não era vaidosa. Não gostava de festas. Era simples, e dedicada a casa.

Sua característica mais forte era transbordar de amor. Tanto assim que seus dois filhos do coração não conseguiram saciar tanta fome de afeto, contribuindo para que ela adotasse também o Dolly, seu cachorrinho de estimação, com quem ela mais conversava e lhe fazia companhia constante. Hoje, como uma trégua nos dias atribulados, os seis irmãos, encontram-se na casa grande, em festas de família, no Natal. O pessegueiro em flor já não se encontra lá bisbilhotando e colorindo a vida desta família. Só ele saberia dizer, segredos balbuciados inadvertidamente. Apenas a casa grande permanece, e como a primeira filha, aguarda a chegada do clã, com festas bem preparadas e fartas. È um prazer estar vivo para curtir esta experiência de vida.

estefania
Enviado por estefania em 10/10/2008
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