+++ UM QUASE AMOR! +++

Começando mais um dia normal e não às avessas como gostaria....mas...estava lá, acordando .....

Pensando num turbilhão, tudo vinha à cabeça, as maiores dúvidas teimavam em sacanear, na esperança de vir a acontecer um dia às avessas..

Tomando seu café, pão com margarina, gostoso., Um prazer simples diário, muitas vezes não valorizado por uns, desejado por muitos.

Pequenos contrastes ruborizados da vida cotidiana!

Terminou de se arrumar , com sua pasta, saiu para trabalhar na esperança de um dia às avessas.

Deixou o carro na garagem, por dias não o usava, queria o contato com a vida lá fora!

Pegou o mesmo ônibus, agora seu conhecido, parecendo sorrir para ele, velho cansado mas sorrindo, exemplo de força!

Sentando no banco, olhando pela janela, gostava de olhar as coisas, a vida passando rápido, as pessoas, o movimento...

A diferença entre um bom dia e um dia bem vivido, é o passo de gigante.Entre o viver e o saber viver era outro.

Era inevitável concluir que defendia a vida com bons momentos. Bons momentos ganham vida, independentemente de estarem ou não, sendo bem aproveitadas.

Mas teria que dar a cara? Bem…dar a cara, é um sinal de coragem, e paradoxalmente, não dar a cara, não será obrigatoriamente sinal de covardia mas sim de prudência. Estaria a ser prudente?…

A idéia martelava-o quando saiu. Precisava de ar, de ar limpo, encher seus olhos de esperança, em busca do dia às avessas.

O seu companheiro parou no destino: seu consultório. Passou tão rápido, pagou, saiu do ônibus e foi ao trabalho.

Como sempre, cordial , cumprimentou a realidade: seus pacientes inocentes com seus pais cuidadosos e preocupados: realidade contrastante, como o café da manhã que tomou ainda a pouco.

Atendeu a todos, tudo deu certo, tudo perfeito,como sermpre.

Ele, um pediatra respeitado e querido pela comunidade, não deixava transparecer sua timidez, mas era, principalmente na questão do coração!

Esse amigo, que dentro do peito sabia de seu mal, que nem ele mesmo tinha percebido, até um certo momento.

Seus vários amigos não entendiam porque ele era tão sozinho, se namorou algum dia não conseguem se lembrar. Um homem bonito, cabelos pretos, pele levemente morena de sol decorrente das caminhadas que fazia na praia nos fins de semana, olhos verdes, corpo atraente aos olhos femininos.

A boa conduta, família integra, tudo tão certo, Faziam de tudo para arranjar uma companheira para seu coração, mas ele recusava, dizendo que ainda não chegou a hora, preferia ficar estudando, lendo e comprando livros da lojinha pitoresca perto da praia.

Um rapaz novo, início de carreira,com tantas qualidades, mas sempre sozinho, parecia distraído nas coisas do amor.

Quando se tomou doutor, realizou-se, seus pais o ajudaram muito. Hoje morando sozinho, gosta disso.

Essa coisa de solidão nunca o incomodou...até aquele acontecimento fatídico ...

A partir daí essa necessidade de se ter um dia ás avessas se tornou seu objetivo principal, exatamente á duas semanas .

Final do expediente, sua secretaria avisa que não há mais pacientes.

Arruma a agenda para o próxima dia do resto de sua vida!

Hoje vai ser o dia ás avessas!

Começou a chover....e ele sem carro nem guarda-chuva....mas vai mesmo assim....porque hoje o dia não vai terminar normal!

Avança para a chuva com a gola do casaco a proteger-lhe o pescoço, sabendo que, com aquela chuva, não seria por muito tempo.

Caminha, com o destino a frente, fugindo do pensamento que teimava na afirmação malévola:

-“ Sabes a diferença, sabes! Dar a cara tem um preço!”

E depois?…Azar! - Pensou – “deixa-me com a chuva e este vento com o cheiro atlântico, preciso da vida…, só por hoje, vá lá com coragem, amanhã talvez assuma o preço, e faço disso sentido de vida, mesmo que pareça ridículo, sem ressentimento… garanto-te que não serei um ignorante altivo.”

A chuva impiedosa e o vento gelado cortavam-lhe a cara, parecia que não ia durar muito...mas....faz parte do dia.

Início, sorriu pro destino, estava do seu lado, e tornava mais forte a cada passo, assim não ficando rastro nenhum, que, a esta altura já estavam ao nível de suas solas que atacavam decididas o caminho, num chape, chape, constante, nas poças que se formaram.

Finalmente chegou, soube-o naquele preciso momento, não antes. Dali abarcava todo o mar e a imensidão do sonho que marcava a sua grandeza e o faziam sentir vivo.

A chuva, agora mais fraca, não o incomodava, não sentia frio, seu coração pulsava dando o calor necessário para o aquecer, será que era o calor do amor?

Enganos dos enganos; as dúvidas de consciência o afetavam profundamente, talvez pelo esforço que fazia para não a ter entorpecida, afinal, não era mais que uma defesa contra a coragem. O entorpecimento que retira agilidade ao pensamento e cria uma letargia onde não existe lugar para o vazio, e o vazio é primordial à criação, é do vazio que nascem os pensamentos únicos e as obras originais, como também os destinos mais loucos, são formados desse entorpecimento e vazio da mente....

Talvez ali, nesse lugar, fosse possível criar o vazio primordial, necessário a realização de seu desejo, aquele não pensado até o presente momento, e dele fazer nascer o dia ás avessas.

Ela estava lá, atendendo os clientes, naquela loja pitoresca e nova na cidade. Simples mais elegante. Com estantes cheias de sonhos para as mentes sedentas de novas historias para seu mundo!

Era bonita, a loja e a dona, ambas autênticas, confiáveis, inocentes talvez... mas não importa, não era defeito!

Cabelos longos, ondulados, presos levemente de um jeito que os deixava leves, castanho claro, usava óculos, misteriosa e inocente, perfeita!

Ele entrou na loja, ela não o percebeu, estava mostrando uma nova coleção que chegara á loja, parecia interessada em mostrar àquele senhor.

Se lembrou do dia fatídico, a primeira vez que entrou na loja, para passar o tempo, foi uma bobeira boa que fez. Hoje sabe, foi a melhor de todas. O destino é assim, prega peças quando menos se espera. Isso é vida! É maravilhoso!

Viu aquela mulher, simples e ideal para ele, como não a encontrara antes? Passou a comprar um livro a cada dois dias, comprava até dois. Cansou de passar na frente da loja como adolescente, na tentativa de vê-la mais uma vez...

Parecia fixação, todo dia após sair do consultório, passava na lojinha e comprara um livro, olhava o mar e sonhava....

Hoje porém, estava ali, corajoso mas... molhado pela chuva, decidido ...será?

Será que o dia era hoje? Hoje a chuva foi forte e o seu barulho não deixara espaço ao vazio, era necessário um silêncio de espanto e uma inconsciência vagamente consciente, será para poder agir melhor?

Estava seguindo para a porta novamente, cabisbaixo, prometendo voltar, em seu pensamento, num momento mais propício.

Traria flores, o barulho e estrelas do mar para aprisionar ali naquela grandeza, as palavras e a coragem de falar-lhe...

E, nesse dia viria só, sem seus princípios, sem pasta, sem timidez, sem nada mais ...só com seu amor por essa mulher e à essa liberdade que está aprisionada em seu peito!

Saberia então o que seria um dia ás avessas do resto de suas vidas!