A Mulher Só - capítulo II
Faltavam 3 semanas para o casamento e Tião já não tinha mais desculpas para inventar. Maria cobrava a visita até o galpão... O que ele não podia dizer, era que por conta de suas dívidas na oficina mecânica, os móveis foram confiscados por Pedrão.
Dali a pouco iria buscá-la para tomarem sorvete e com certeza ela perguntaria.
Teve uma idéia, diria que perdera a chave, ela era ingênua, acreditaria nele.
***********
Maria sabia que Tião estava mentindo, algo acontecera com os móveis. Perguntara e ele disfarçara. Achou melhor não insistir. Hoje era sua folga e sairiam para comer algo, quem sabe ele não contava o que tinha acontecido?
Ouviu o barulho do Maverick e foi até à porta, fez sinal com a mão para ele esperar e pegou sua bolsinha. Amava aquele acessório que ganhara de Dona Elza, sua patroa. Olhou-se no espelho do corredor e sentiu-se bonita. Tinha um cinturinha de pilão, busto empinado e bumbum grande. Todas a s roupas lhe caíam bem. Tinha alisado o cabelo naquele dia e estava um brilho só.
No caminho percebeu o namorado calado. Achou estranho ele era tão falante.
Começou a puxar conversa e falar sobre os preparativos do casamento. Eles iriam se casar dentro de poucos dias e ela estava ansiosa. O seu cunhado, irmão de Tião, também se casaria no mesmo dia, logo em seguida deles.
O fotógrafo já fora contratado, o vestido estava pronto, o bolo encomendado. E Tião não abria a boca. Resolveu ficar quietinha um pouco só para ver a reação dele.
**********
Tião estava constrangido. Como amava aquela negrinha. Seria capaz de fazê-la feliz? Começando errado daquele jeito?
Ao pararem ela de subido falou:
-“Quero ver os móveis”.
-“Pra que Maria, você já não viu?”
- “Quero ver de novo oras...”
- “Tá bom, vamos lá”.
Passaram pela oficina e Pedrão, com cara de cínico acenou. Tião foi até a porta e enfiou a mão no bolso como se fosse pegar a chave. Revirou os bolsos e com ar de desespero resolveu contar a verdade.
-“Maria, nossos móveis estão presos. Estou devendo muito dinheiro para o Pedrão e ele não vai me deixar tirar nada daí, a menos que eu arranje dinheiro para pagá-lo.”
Ela não disse nada, com os olhos cheios de lágrimas, pediu para irem embora.
Com folgas quinzenais, Maria ia sempre para a casa de sua irmã Jandira. Lá passava o final de semana, brincava com os sobrinhos, ajudava na limpeza da casa e ia embora na segunda-feira de manhãzinha. Quando chegaram lá, seu cunhado, de cara perguntou:
- “Que cara é essa nega? Parece que morreu alguém!”
Tião contou a verdade, não porque era sincero, mas sim por saber que seu futuro cunhado sempre tinha dinheiro e na esperança de conseguir a quantia emprestada preferiu falar tudo.
O tiro saiu pela culatra, pois Francisco virou para Maria e falou:
- “Você não precisa se casar com ele, pense bem, não vai estragar tua vida!”
Com os olhos marejados de lágrimas, Maria permaneceu de cabeça baixa.
CONTINUA...