Pensamentos, devaneios, exclusão

Em um pequeno vilarejo do sul da França existia um jornal que era lido por todos daquele local, muitas pessoas se encantavam com belíssimas histórias, pensamentos, reflexões diárias de uma pessoa que tinha a alcunha de “Seu Pensamento”.

Muitos escreviam para o jornal querendo saber quem era aquela pessoa que escrevia tão bem, e conseguia traduzir em palavras o que muitos sentiam e pensavam. O jornal, por sua vez, escrevia em notas no diário dizendo que as mensagens começaram a chegar ao jornal sendo deixadas em janelas, jardins, bancos. Os textos chegavam em folhas soltas, sem envelope sem nada.

O editor teve acesso a um desses textos durante o café, alguns funcionários comentavam a sutileza das palavras, o cuidado ao escrever. Então, ele começou a ler também os textos e a publicá-los.

Em uma palestra numa faculdade de outra cidade que ficara conhecendo os textos, um estudante de direito perguntou:

- Se não é ninguém da edição, o senhor publica textos de outra pessoa, dando crédito somente a alcunha do mesmo. Já pensou em solicitar que o mesmo aparecesse, talvez para assinar um contrato, receber os méritos?

O editor ficou pensativo, e colocou uma nota no jornal expondo que estava disposto a pagar pelo trabalho, pelos textos. Porém não obteve respostas.

Como era obras de arte a confecção dos textos, feitos a mão, com letras desenhas, o jornal decidiu abrir uma exposição dos mesmos, quem sabe o autor não se manifestaria.

Muitas autoridades, artistas plásticos, jornalistas, foram conferir o evento, porém ninguém apareceu para assumir a autoria dos textos. Então um senhor teve a idéia de fazerem vigília em torno do jornal para saberem quem deixava esses textos lá.

Na primeira noite nada viram, mas no dia seguinte estava lá o texto em cima de uma planta do jardim. No outro dia estava chovendo e a carta fora deixada no para peito de uma janela. Mais uma vez ninguém viu.

Os textos e o mistérios que os rondava fez com que a cidade atraísse muitos turistas, curiosos, o vilarejo começou a se desenvolver, a crescer. O prefeito mandou construir um monumento em formato de um cérebro para homenagear o tal “ Seu Pensamento”.

E eis que após a inauguração do mesmo surge um texto falando do evento:

- Hoje meu pensamento ganha uma homenagem, uma reverência por trazer o progresso para esta cidade. Esse mesmo pensamento de hoje, foi o que no passado trouxe o regresso para minha vida, foi o mesmo que fez com que cada cidadão desta cidade me excluísse no alto de uma colina vivendo do meu próprio esforço, perdida em meus próprios pensamentos, os mesmos que fazem vocês acharam respostas para seus problemas, conforto para seus sofrimentos. Um pensamento levado por um pombo correio pode levar uma pessoa ao sucesso, porém acompanhado de um ser humano com uma doença psiquiátrica pode levá-la a exclusão. Sim vocês que hoje aplaudem meus pensamentos me excluíram por eu ter problemas mentais. Mas deixo aqui os meus pensamentos, agora vocês já podem caminhar sozinhos, refletirem individualmente. Enquanto eu comemoro por ter atingido o meu objetivo, mostrar que não são pensamentos em devaneios que exclui uma pessoa, mas o preconceito e desconhecimentos de causa pelas pessoas. Termino aqui meus textos, mas se alguém ainda quiser lê-los, eles estão aqui, no varal de casa secando, pois o pombo que os levava, não pode mais, pois acaba de morrer com uma pedrada dada por vocês. Eu não posso levá-los, pois não pude nem entrar num evento, numa exposição dedicada ao meu trabalho, pois a cidade não me aceita, somente a meus pensamentos.

Lilian Gonçalves
Enviado por Lilian Gonçalves em 29/10/2008
Código do texto: T1254473
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