Eu vinguei foi para isso

[Conto finalista do 5º Prêmio Joinville de Expressão Literária]

Eu nasci uma semente para vislumbrar o riso. Sinto, desta forma, n’alma como um fio de estrela que brota no âmago e gera a sensação de infância e nudez sensível de espírito.

Nasci com a ordem de criar uma vida que então, me suprisse toda necessidade guardada na aproximação da velhice que assisto todos os dias no melancólico crepúsculo dentro de um quase fim de jornada.

Crio em mim uma nobreza de sentimento. E eu, gestante desta alegria, uso a vontade de viver como combustível para nascer e brotar uma mais-que-necessária taquicardia.

Para isto, sorrio: escancaro a alma. Como se eu existisse de dentro para fora, como se a vida se movimentasse para uma só tarefa: tornar possível o fruir da alegria. Contrária à sensação de estar alegre para fazer acontecer a vida. Assim é que acontece: cria-se a vida para a alegria e não vice-versa.

Diluindo: posso afirmar à quantidade de ventos que for possível: não existe ninguém mais guardador de sementes que eu.

Eu nunca vi nem jamais verei outro alguém com a taquicardia que eu guardo em mim. Pulsação de sangue galopando nas veias: euforia: exaustão.

Inevitável: uma macia velhice, porque o meu crepúsculo, ninguém esconde. Eu me sinto muito mais gestante a cada um desses que nasce - ou morre. E em mim, a nudez sensível de espírito gerará dentro da própria semente, outra sensível e nobre sementinha que vislumbre muito mais que eu. Que nasça para semear o mundo de rancores com sorrisos, sensações de infância e nudez sensível de espírito.

E que acima de tudo perceba que em si carrega uma próxima geração de sementes. Em sua própria gestação.

Heloisa Rech
Enviado por Heloisa Rech em 02/12/2008
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