Lição de moral

Vivia meus primeiros meses na capital baiana, calouro de faculdade e jovem do interior sabe como é...cheio de cisma. E lá ia eu mais um dia, melhor, noite pois já passavam das dez e o bom e velho “busu” nem sinal de chegar, para piorar minha situação era noite de futebol, Brasil e Argentina na TV, imperdível!! Minha tia, lá na Boca do Rio, a dona da casa que eu morava, sempre me dizia para evitar os ônibus que paravam na orla, pois àquelas horas da noite eram freqüentes os assaltos. Ansioso para assistir o jogo que já começara, entro no primeiro ônibus que me aparece.

Quarenta minutos depois chego ao meu destino, a orla. Não haveria de ser justo aquele dia, ser assaltado; pensando bem achava até que os ladrões deviam estar assistindo o jogo. Desço, as ruas estavam vazias, nem uma alma viva, tiro o relógio, o coloco no bolso, passo pelo canteiro central, subo a primeira rua: deserta e quando entro por um beco estreito próximo já de casa subtamente aparecem três jovens, deviam ter entre dezoito e vinte anos de idade, de bonés andando lado a lado e de forma bastante suspeita, vindo em minha direção. Engoli a saliva e continuei no mesmo passo em direção do meu eventual e trágico destino. De repente eles param em minha frente, pensei: é agora! Aí que um deles põe a mão no bolso, puxa um papel, me dá e diz, aceite Jesus e conheça a igreja do evangelho do etc..etc..Me senti como um pára-quedista que acaba de aterrizar em solo. Mal acreditei, pois via, mesmo que instintivamente, os três garotos como uma ameaça mais do que real. Para mim foi uma lição inesquecível de como imaginação fértil aliada ao preconceito nosso de cada dia podem fazer um estrago. Guardo o papelzinho até hoje.