Procurava algum sinal de vida ao fim. Relembrando todos os passos que desperdiçou indo a lugares que odiava – apenas obrigação. Ao mesmo tempo, lamuriava-se por outra dor: a da não aceitação.

“Nem cabelos brancos tenho. Minhas rugas escassas. Minha vida escassa.”

Deitado naquela cama fria desejou tê-la ao seu lado. Aquela mulher que permitiu os olhos tocar, ainda que num encontro breve, um esbarrão na rua. Não parou para cortejá-la. A pressa foi inimiga.

“E, para ser bem sincero, – pensou consigo –, a correria sempre foi sua grande rival”.

Agora, permanece em seu palacete privativo, tão inconsolavelmente só, cheio de raiva pelo estresse estar matando-lhe. Afinal, se não fosse por ele, quem sabe não sentiria o peso desta doença. Não fosse por ele, teria melhores lembranças, piores lembranças, algumas memórias desta vida, não aproveitada.

“É tarde” – resmungou para si.

Estava sempre em busca do sucesso, ou do que julgava ser este tão desejado sonhar: Um bom emprego, uma casa espetacular, uma BMW, uma promoção, ternos Armani, sapatos italianos, um celular de última geração, TVs de plasma, um Vaio e mais outros tantos produtos de consumo.

Consumir soa como uma boa palavra para definir seu estado atual. Consumido pela desolação de não ter se permitido realmente viver.

No silêncio da escuridão de seu quarto rezou para que fosse sua última
noite.
Karla Hack dos Santos
Enviado por Karla Hack dos Santos em 18/12/2008
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