NOITE FELIZ

Noite feliz para mim não foi a noite de Natal.

Noite feliz para mim foi quando fui assistir ao Zorro.

O cinema estava cheio de gente e eu estava cheia de pacotes de pipocas, de cachorros quentes, de refrigerantes.

Sentamos confortavelmente eu, meu marido, e meu filho mais novo de vinte anos.

Num instante o filme começou.

Ah! Que coisa mais linda! O Zorro cortou a tela do cinema com a espada e fez um enorme Z por cujas frestas saíam fogo.

A fita já começou com o Zorro salvando gente inocente dos bandidos malvados. Quando ele foi cercado por um monte de bandidos, ele jogou o chicote numa viga lá do alto, e voou como um trapezista enquanto, num assobio agudo, chamou o cavalo lindo, preto e ensinado.

É claro que eu fiz um escândalo, bati palmas, gritei, xinguei os bandidos. E o meu marido me acompanhou nisso tudo.

Meu filho não gostou. Ele nunca gosta dos escândalos que eu e meu marido fazemos no cinema nos filmes de heróis. Mas que menino chato, com vinte anos e parece um velho.

Quando o Zorro estava lá com namoricos com a mocinha eu aproveitei para comer a coisarada que trouxera. Por mim eu teria trazido até frango assado com farofa, mas, no cinema não pode. Comi e, nesse ponto, o meu filho não foi chato não. Ele mais que depressa tratou de abocanhar dois cachorros quentes e pipocas e doces e refrigerantes. Só meu marido é que não comeu nada. Ele nunca come nada fora de hora. Nisso o chato é ele.

De repente começou uma luta de espadas, do Zorro contra cinco bandidos. Isso mesmo cinco bandidos! Mas que luta! Eu urrava, gritava, xingava os bandidos, e o meu marido também.

Mas o pior é que o chefão dos bandidos tinha raptado a mocinha. Ele era um chefão todo granfino, bem vestido, cabelos grisalhos, até bonitão. Mas era o chefão dos bandidos.

A mocinha gritava, berrava, esperneava, mas não adiantava, pois o Zorro estava lá atarefado naquela luta terrível de espadas contra os bandidos que ele ia espetando e matando, um por um.

É claro que tinha gente nas poltronas da frente e nas poltronas de trás, e até nas poltronas do lado, que não estava gostando nada da minha gritaria e da minha torcida em favor do Zorro. Mas meu marido é um gigante de quase dois metros de altura e parece um lutador de luta livre, e o meu filho é igualzinho ao pai. Assim eu pude continuar com a minha torcida e com o meu berreiro em favor do mocinho, sem ser incomodada por aqueles chatos que vinham ao cinema para ficarem ali que nem múmias, sem aproveitarem o filme.

É claro que eu estava com medo do Zorro não conseguir salvar a mocinha. Mas ele conseguiu. Ele acabou de matar os bandidos naquela luta de espadas e depois, pulou em cima do cavalão preto e saiu num galope disparado atrás do bandido chefão.

Aí sim, aí a coisa esquentou.

O bandidão chefe era o rei da espada e o Zorro já estava cansado de tanto matar bandido. Eu fiquei com medo do Zorro perder a luta. E quase perdeu, foi por um triz. O bandidão conseguiu derrubar ele umas quatro vezes e ele perdeu a espada duas vezes. O que salvou é que ele tinha um jogo de corpo que nem dava prá ver e recuperou a espada duas vezes e acabou matando o bandido.

Aí o filme acabou com ele beijando a mocinha. The End.

Quando chegamos em casa, o meu marido perguntou o que a gente iria fazer e eu respondi:

“Vamos comer.”

MILIPA
Enviado por MILIPA em 30/01/2009
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