Aconteceu Comigo

Eu me espanto com minha sensibilidade insensível. É um termo estranho, porém o mais apropriado pra mim.

Eu tinha acabado de subir no ônibus, e tinha começado a pensar sobre as mesmas utilidades de sempre. Aí ela entrou. Deveria ter algo em torno de 15 ou 16 anos, e cursava o 1º ou o 2º ano no Salesiano. Ela não correspondia ao o que a sociedade chama de belo. Nem ao que eu chamo de belo. Mas ela era simpática. Eu a observava desde o momento em que subiu no ônibus. Ela estava recostada na parede do minibus, aquela que separa os idosos e os deficientes físicos dos demais. Eu observava-a e ao mesmo tempo pensava: “será que é ela”? Eu sei que isso parece negócio de menininha, mas eu absorvi isso. Aquela velha frase de Bob “everything is gonna be allright”. Aquela filosofia de contos de fadas que tudo termina bem no fim. Mas qualquer um que tem o mínimo contato com a realidade sabe que não é bem assim. Principalmente quando você tem 14 anos, o rosto tomado por espinhas e se chama Júlio.

Eu continuei a admirá-la. Simplesmente admirá-la. Então aconteceu: ela olhou pra mim. Eu continuei a fitá-la e pensei em oferecer pra ela o meu lugar e ficar em pé, mas o olhar dela me respondeu: “Isso soa muito piegas” . Ela parecia bastante cansada, mas o olhar dela permanecia inalterado. Aí eu percebi que o olho dela tinha um brilho diferente, especial. Não, isso não é um recurso poético, é verdade. Um brilho único, que eu só tinha visto parecido no olhar de Mari, minha irmãzinha. Ela apoiou a cabeça novamente na parede. Por algum motivo, ela me atraía. Mesmo sem ser sexy, me seduzia. Mas ela parecia triste. Quando eu comecei a imaginar o por quê dela estar triste, ela cortou meu pensamento com um sorriso. Parecia falar “estou só cansada” com aquele sorriso. Depois de poucos minutos ela desceu, eu fiquei me perguntando que diabos havia acontecido ali. E conseguia me comunicar pelo olhar, mas com meus amigos, tal como Denise, Valson, Taire. Mas com uma desconhecida? Isso era estranho. Mas eu saltei no ponto seguinte, e todos os pensamentos desceram ralo abaixo com a água do meu banho

Júlio Nunes Sandes
Enviado por Júlio Nunes Sandes em 21/04/2006
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