A menina que vendia bala no trem

Nascida numa família humilde, Taís desde pequenina teve de trabalhar para sustentar sua família, composta por sua querida mãe Celeste e seus dois irmãos Pedro e Paulo, que apesar de serem cinco anos mais novos que Taís, sempre contribuíram com trocados que estes conseguiam no árduo trabalho da roça. Taís ao completar seis anos de idade, ganhou um presente terrível de absoluta maldade, contemplado pela melancolia, e pela dor inconsolável da saudade, a morte de seu prestigioso pai, seu João, que morreu esfaqueado numa briga alheia. Sem muito conhecer da vida, sem muito conhecer de nada, Taís envolveu-se cegamente num amor horrendo e selvagem, que para com ela nunca fora um relacionamento amoroso, e sim, uma atração sexual. Portanto, essa atração apenas pela carne, nunca poderia calhar num relacionamento sério, e dito isso, não calhou, o grande amor de Taís fora embora para nunca mais voltar, deixando uma lembrança tanto especial, quanto perturbadora; um feto divino. Colhendo no ventre um feto de três meses de idade, Taís resolveu vender bala no trem, para continuar ajudando sua mãe, e futuramente pôde criar seu filho com dignidade? Não. Taís têm sonhos maravilhosos, e pretende agir para estes se realizar. Com apenas treze anos de idade Taís ingressou nessa “profissão” de corpo e alma, sem deixar falecer os sonhos que cobiçou desde criança.

“Os sonhos divinos que cobiça na consciência dos seres humanos refletem o mundo melhor que cada pessoa deseja encontrar nesse país, ora de mediocridade, ora de selvageria. Sonhos que a vida mesmo desconhece, mas que coexiste na realidade existencial do nosso viver. Estamos no piloto automático, e, por isso, desapercebemos coisas riquíssimas de utilidades para a percepção de uma visão idealista e concreta”. Pensou Taís consigo própria.

— Bala de todos os sabores!

“As pessoas não hesitam num mundo observador, deixando de perceber como é divina a vida, as ações, o comportamento humano. O mundo é um imenso palco de teatro, e os homens são os atores, os melhores que já vi! Paremos de transitar sem ao menos apreciar uma cena, ou melhor, o comportamento das pessoas ao redor, e verás que a vida é um sonho de consumo de qualquer ator varado de fome pela arte; pelo que é mais importante, a cultura, pois através da cultura seremos cidadãos melhores, melhores no amor, melhores em tudo”. Pensou.

— Caramelo, morango, limão...

“Meu sonho nunca fora vender bala no trem, mas as circunstâncias que me encontro na atualidade, ordenam-me a fazer. Sempre sonhei ser rica, sempre pretendi ser doutora, mas o destino embaraçou meus sonhos, ou talvez, fez-me cogitar pensamentos e sonhos diferentes, mudando completamente minha visão de mundo. Os sonhos que hoje tenho orgulho de sonhar são sonhos construtivos para com a natureza, e, com muita pretensão são sonhos que em breve colocarei em prática para tentar mudar pensamentos de outrem”. Cogitou Taís consigo mesma.

— Balas saborosas e especiais!

— Quanto custa moça? Perguntou um homem esbaforido.

— Um real cada.

— O quê? Perguntou incrédulo.

— Sim. Um real.

— Isto é um absurdo!

— Essas balas são especiais.

— O sabor?

— O sabor deixa a pessoa num mar de reflexão.

— Esquece.

“As pessoas não sabem dar valor a coisas novas que as cercam, pensam apenas no dinheiro, que surgiu mesmo para organizar a população terráquea, sendo utilizado de forma incorreta. As balas se digeridas com apreço, contém um sabor especial; um sabor de amor, um sabor de sabedoria, um sabor de plenitude vital. Quando presencio as pessoas reclamarem do valor das minhas balas, fico excepcionalmente satisfeita, pois assim, reparo nos seus atos, e transformo em cena. O teatro é isso! Uma observação constante do comportamento humano! Um dia serei uma atriz renomada e praticarei o bem que tanto vanglorio”. Pensou.

— Olha a bala da sabedoria! — por apenas dez reais!

Yuri de Oliveira
Enviado por Yuri de Oliveira em 09/02/2009
Código do texto: T1430129
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