MEMÓRIAS ( 8 ) O DOM >*<

Dom é dom, não tem quem deva duvidar disso. Aptidão que Deus dá a cada um de nós. É o que temos de mais precioso e verdadeiro.

Pois não precisamos estudar, cursar, aprender com ninguém nem nos formarmos. Não precisamos de diploma, para ter o dom. É algo abençoado

por Deus. Eu escrevo, não sou formada... Eu pinto não fiz curso

acho que tenho o dom. Eu adoro o que faço, faço com prazer e carinho.

Mas não vim falar de mim, e sim da minha avó.

Ela já faleceu, eu tinha dezenove anos. Foi ouvindo-a Contar histórias que tomei gosto pela leitura.

Minha avó era analfabeta, não sabia escrever seu nome, não sabia

distinguir a letra A do B ou do C mesmo assim ela contava estórias como ninguém, até hoje nunca ouvi estórias tão bem narradas. Ela contava contos que ouvia de sua mãe, tia, avó. Narrava tão bem explicadinhas, nos mínimos detalhes.

Nós ouvíamos e parecia que estávamos vendo a cena ao vivo e a cores.

Os detalhes das roupas das princesas, os babados, as pregas, os botões, laços e fitas jeito dos cabelos, traço do rosto, tudo era detalhado minuciosamente.

Vovó ficou viúva e morava na casa da minha tia (filha dela, e irmã do meu pai). Ela teve derrame, e ficou anos e anos só sentada numa velha poltrona.

Era gorda, então não conseguia andar sozinha, tinha o lado esquerdo todo

paralisado. Uma mulher idosa mais linda! Tinha cabelos lisos, loiros e longos. Na qual usava duas tranças, que dava duas ou três voltas na cabeça, formando uma tiara de trança natural. Vovó tinha a pele branquinha, as faces rosadas uma boquinha de boneca, e lindos olhos azuis. Eu amava minha avó. E o que mais me encantava nela, eram as mãos! Umas mãozinhas lindas, o formato das unhas era perfeito, (eu acho que minhas unhas se aparecem um pouco com as dela, e adoro) inclusive quando minha filha nasceu os médicos a colocaram pertinho de mim, e a primeira coisa que olhei nela antes de tudo, a mãozinha, para ver se era parecida com a da minha avó, fiquei super feliz. são sim bem parecidas... Acho que não regulo bem... Depois de um parto e tanto! Eu me preocupar se a neném tinha as mãos parecidas com as da vovó!

Geralmente reuníamos á noite em volta da vovó para ouvir as estórias dela. Ela sentada na poltrona e nós em círculo. Ficávamos em silêncio

olhando para ela e prestando atenção. E sempre sentamo-nos nos mesmos lugares, era um hábito. Ficávamos duas a três horas só ouvindo-a. Algumas

estórias que ela contava era tão grandes que demorava uns três dias para terminar... Nossas imaginações iam á mil.

Quando eu tinha que voltar pra casa, eu morava horas em São Paulo, horas em Belo Horizonte. E onde eu estivesse morando eu ficava o tempo todo sozinha. Pois meus pais trabalhavam e só chegavam á noite. Eu começava a escrever as estórias que vovó contou.

Escrevia para não esquecê-las, escrevia para passar o tempo, escrevia para me sentir lá com ela novamente...

Só que eu não sabia, era que eu estava assinando minha sentença

de escritora.

Lee Nunes
Enviado por Lee Nunes em 18/02/2009
Reeditado em 12/07/2010
Código do texto: T1445802
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