NO FUNDO DO POÇO...

Felipe e Diego sempre foram amigos. Desde criança que os dois se conheciam e faziam tudo juntos: estudavam, passeavam, brincavam e tambem brigavam vez por outra.

Felipe, apesar de ser dois anos mais jovem do que Diego, era também o mais ajuizado dos dois.

Enquanto Diego era esquentado, sem paciência, brigão e arrogante, Felipe era calmo, paciente, não se metia em brigas, era humilde e tinha um sorriso que era difícil não conquistar quem o conhecesse. Felipe era o que chamamos de uma criança meiga e Diego o que chamamos de pavio curto.

Diego não levava desaforo pra casa!

Não foram poucas as vezes em que Felipe teve que apartar brigas que Diego arranjava pelas ruas.

Apesar de tudo, eles tiveram o que chamamos de "uma infância feliz".

Mas, o tempo passa e as pessoas mudam. Umas mudam pra melhor, escolhem o caminho do bem e vivem felizes.

Já outras não teem a mesma sorte...

Foi o que aconteceu com Diego e Felipe.

Chegando aos quinze anos, Diego arranjou uns amigos que a mãe de Felipe classificou como não "recomendáveis". Diante disso, a amizade entre os dois sofreu um pequeno abalo e os dois, depois disso, passaram a encontrar-se cada vez menos.

Felipe sentia muita falta de Diego. Se a sua mãe não o houvesse proibido, Felipe estaria fazendo parte da turma de Diego.

Mas, coração de mãe sente quando o perigo se aproxima e Felipe achou mais sensato desligar-se do amigo.

Não se desligaram completamente. Vez por outra, as vezes casualmente, os dois se encontravam e batiam um papo.

Felipe notava que Diego havia sofrido grandes mudanças...

Já não era mais aquele Diego que por tamto tempo havia sido o seu melhor amigo...

Em pouco tempo de novas amizades, Diego começou a usar drogas. Não demorou muito e começou a vender as coisas de casa para sustentar o terrível vício. Quando não encontrava o que vender, ele vendia as próprias roupas.

Nas raras vezes em que falava com Felipe, Diego sempre lhe pedia algum dinheiro emprestado.

Mesmo sabendo que era pra comprar droga, Felipe sempre lhe arranjava algum trocado.

Felipe sentia muita pena de Diego.

Aos 17 anos, Diego era só pele e osso. Tudo que tinha algum valor, se caisse em suas mãos, logo era trocado por droga. Passava dias e dias sem fazer uma refeição decente.

Os banhos também foram ficando cada vez mais raros...

Felipe sofria em ver o amigo naquelas condições, mas nada ou quase nada podia fazer por ele.

Certo dia, Diego chegou na casa de Felipe e o encontrou sozinho. Seus pais haviam saido para um casamento e demorariam a voltar.

Diego falou:

- E aí parceiro, beleza?!

- Beleza Diego. E você, como vai?

- Tô quebradaço! Tem uma ponta aí pra salvar o parceiro?

- Tenho não, Diego. Hoje você me pegou sem nada...

- Qual foi, meu? vai sujar na do nêgo?! Arranja uma ponta aí, vai!

- Tenho não, sério!

- Sem essa, pivete! Hoje é fim de mês e eu tô ligado que o teu véi solta uma ponta pra tu!

- É verdade. Mas ele só vai me dar na segunda...

- Aí, pivete! joga ao menos cinco pau aí, na limpeza!

- Não Diego, hoje não!

- Aí pivete: eu faço qualquer coisa. O que você quiser! Tá ligado?

- Mas não tem nada que eu queira que você faça.

- Aí pivete: Eu te faço um boquete! chupo o teu pau! te dou até o meu cú! Tá ligado?!

Felipe levou um choque...

Uma tristeza imensa invadiu o seu coração.

Seus olhos começaram a arder e uma preguiçosa lágrima deslisou pela sua face.

Diego havia falado mesmo o que ele acabara de ouvir?

Não... Não podia ser... Diego não falou isso...

- Diego...

- Qual foi pivete? Tá chorando por que?

_ Será que eu ouvi bem o que você falou?

_ Ouviu sim! Eu faço mesmo pivete! num tô nem aí! Tá ligado?!

- Diego, você não sabe o que tá falando...

- Ora num sei! Qual foi pivete? Tô cansado de fazer isso. Quando eu tô afinzão de fumar e tô quebrado, eu faço um boquete no cara lá da bocada e ele libera um baseado aqui pro nêgo.

Felipe estava arrasado!

As lágrimas agora desciam em fila e molhavam o chão aos seus pés...

Diego havia chegado ao fundo do poço...

Seria a droga capaz de fazer o ser humano chegar a isso?

Seria, não. É!

A prova eatava ali, na sua frente...

- Diego, você me magoou...

- Sem essa pivete! eu não lhe fiz nada!

- Como você foi capaz de me propor um absurdo desses?

- Pra conseguir a maldita, parceiro, o nego faz qualquer coisa!

- Eu vou lhe dar o dinheiro. Mas por favor, nunca mais abra a boca pra me falar uma coisa dessa...

- Beleza! pode deixar pivete!

Felipe lhe deu o dinheiro e ele saiu quase que correndo.

Diego estava com a noite salva...

Uma semana depois desse ocorrido, a foto de Diego estava estampada na primeira página dos principais jornais da cidade.

"Jovem de 17 anos morre ao trocar balas com a polícia"

Diego havia morrido na noite anterior.

Para Felipe, Diego havia morrido há muito tempo...

Diego é que não havia se dado conta...

valdenir
Enviado por valdenir em 26/02/2009
Código do texto: T1459014
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