Tatiana, Ronaldo e a TPM

Ronaldo é meu marido. Sempre que estou na TPM, ele é o que mais sente a crise. Como? Vivenciando-a. Escreveu sua própria tabela mensal do meu ciclo menstrual e quando eu entro naquele período que antecede as tensões, ele entra também. Já imaginou? Duas pessoas dentro da mesma casa sofrendo com a mesma síndrome? Pensando em como a situação ficaria insustentável - pois haveria morte todos os meses – resolvi que alguém teria que amenizar a onda de terrorismo daquela semana e a pessoa mais indicada para o serviço era eu mesma, já que Ronaldo incorporava tão bem os sintomas da TPM que eu sentia medo de qualquer aproximação durante aqueles dias em que ele se encontrava tão ou mais sensível do que eu.

Ronaldo sentia os peitos doerem e dizia que sendo ele o macho que era e assim como todos os machos do mundo em algum momento, fosse de frio, de bolada no futebol ou da iminente tensão pré menstrual da mulher, as mamas doeriam. E como ele reclamava! Passava muito tempo debaixo do chuveiro com a água caindo numa temperatura absurdamente alta mesmo nos dias mais quentes do verão “para acalmar as dores”, dizia. Assim, eu acabava esquecendo o desconforto dos meus seios.

Numa madrugada - primeiro dia da minha menstruação - Ronaldo me acorda com a voz entrecortada de soluço e desespero, torcendo-se muito disse que estava com cólicas menstruais.

- Não seja bobo Ronaldo.

- É sério. Dê-me um remédio, rápido senão eu vou morrer! Fui buscar uma “dipirona” para acalmar as cólicas do Ronaldo; aproveitei e preparei uma bolsa de água quente para aliviar mais rapidamente as dores que ele gritava sentir. Quando finalmente adormeceu pude descansar um pouco, mas em seguida ele me acordou com um cutuco no ombro e me disse “nunca mais vou te pedir ajuda, se é para me ajudar com essa cara”, virou de lado e não esperou resposta, fazendo meu sono desaparecer por completo.

O fato é que depois que casei eu nunca tive a chance de me queixar do inchaço incômodo dos seios, de alguma cólica imprevisível ou do mau humor muito comum neste período porque o Ronaldo, ah o Ronaldo, ele me deixava louca com as crises de TPM que sentia, fazendo-me esquecer de minhas próprias.

Um dia ouvi um “abre o olho Tatiana” que me fez pensar por uns 15 dias. Geralmente quem fala assim é porque sabe de alguma coisa muito tenebrosa do outro, quer alertar, mas não sabe como ficar de fora do assunto então, deduzi: Ronaldo tinha uma amante. Que decepção! Levei mais algum tempo para assimilar a derradeira história e felizmente quanto mais se pensa mais rapidamente se chega às profundezas da verdade, encontrei o que os meus olhos até então fechados não me permitiam ver; Ronaldo não poderia ter “uma” amante já que se portava como uma mulher com TPM e tudo o mais, só não usava O.B. porque o único orifício disponível era usado para outros fins. O mais provável era que ele tinha “um” amante. Que horror! Era possível que Ronaldo estivesse me enganando todos esses anos para esconder da sociedade seu lado homossexual? E por todos esses longos anos estaria com algum namorado, amante ou amigo sem que eu sequer desconfiasse? E a única pessoa que sabia era aquela que me disse para abrir os olhos? Era o fim.

- Ronaldo eu quero o divórcio, não existe mais nada entre nós. Ou melhor, existe sim e é por isso que eu não te quero mais.

- Credo Tatiana, que papo é esse? Nós somos tão felizes!

- VOCÊ é feliz, eu não sou. E pensar que eu agüentei com paciência todas as suas crises, fiz chá, esquentei água para por na bolsa e você me paga com isso?

- Mas Tati, eu só queria te mostrar como é ficar na TPM todos os meses, todos os meses, sempre a mesma coisa, seios, cólica, mau humor. Prometo que não farei mais isso, venha cá fofucha.

- Fofucho é o fundo da cueca do seu amante, seu falso!

- Cueca do amante? Que é isso Tatiana?

Michele CM
Enviado por Michele CM em 13/03/2009
Código do texto: T1484499
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