PASSARINHOS

PASSARINHOS

Quando residia em Curitiba, morava numa casa, e o que era melhor, uma casa com quintal. Já morei, também, em apartamento, mas confesso que não gostei. Dizem que morar em uma casa é muito perigoso, mas quantos apartamentos já foram assaltados, mesmo com os modernos sistemas de segurança? Eu adorava minha casa.

No quintal tinha uma pitangueira que minha mãe plantou; um pé de araçá, presente da tia Madalena e um xaxim que ganhei do tio Gilberto, este com quase quatro metros de altura.

No pé de araçá, ajeitei uma espécie de plataforma de madeira, feita à machado como é do meu feitio, onde colocava frutas para o deleite de bem-te-vis, sabiás e sanhaços.

Minha mulher, que também é apaixonada por passarinhos, costumava jogar todas as tardes, ali por cinco horas, punhados de quirera e painço na calçada, que eram avidamente devorados por bandos de rolinhas e alguns canarinhos da terra. Era lindo de se ver.

Um dia, sentado na soleira da porta da cozinha, vi algumas rolinhas catando migalhas no chão. Eram umas quinze mais ou menos. Fiquei ali, quietinho, só observando. Deu para notar que quatro delas eram filhotes. As mães, que eram duas, dividiam-se nas tarefas de comer e de alimentar seus filhotes. Aonde as mães iam, lá também iam os filhotes piando e batendo as asinhas. A certa altura levantei-me para beber água e elas, assustadas, voaram para a pitangueira. Passados alguns minutos, voltaram todas para a calçada e os quatro filhotes, ainda esfomeados, corriam atrás de suas mães pedindo comida. Lindo de se ver os quatro filhotes correndo atrás de suas mães pedindo comida.

De repente, minha cadela Morena, que é filha de mãe vira latas e pai Setter, se deu conta da passarinhada no chão. Da mãe herdou a cor preta e do pai o instinto de caçador Tal qual se vê em filmes, quando uma leoa se aproxima de uma manada de zebras, Morena parou e ficou olhando fixamente para o bando. Não sei por que, mas me deu a impressão que ela olhava diretamente para os quatro filhotes.

Lentamente, pé ante pé, ela foi se aproximando, ergueu a pata dianteira direita e, imóvel, permaneceu assim por alguns momentos. Parecia até uma cobra amarrando sua presa.

Lindo de se ver a Morena parecendo uma cobra amarrando sua presa.

De repente, num salto espetacular, pulou sobre os passarinhos que, apavorados, voaram para longe.

Lindo de se ver os passarinhos voando para longe.

Inclusive os três filhotes.

ee.

Elias Ellan
Enviado por Elias Ellan em 22/03/2009
Código do texto: T1499683
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