Meu Pai...cordel em curso...

Meu pai

No sertão da Paraíba, num tempo não muito distante, viveu um homem distinto de caráter impressionante. Nascido de gente simples, mas de nobre proceder. Aprendeu fazer com as mãos a arte do sobreviver. Não era dono de terras, não tinha gado vacum, não era filho de nobres e não herdara nenhum. Não tocava um instrumento e nem era menestrel, trabalhava com esmero da terra tirava o mel. Desde tenro foi levado para a terra cultivar, os seus pais morreram cedo com uma prole pra criar. Ficando como maior, entre outros irmãozinhos teve que apreender bem cedo a tristeza do caminho.

Lá pra bandas do sertão, a escassez é comum, falta água todo tempo, muitos anos é como um, para trazer desesperança e a descrença do jejum. Perde-se a fé muito cedo, pois do céu não cai fartura, os homens fogem pra longe para viver uma aventura, em busca de uma porção, de um dia de serviço, sendo um vício ser peão; trabalha de sol a sol, pra ser dono de um quinhão. Ter a honra dos vizinhos, pra família ter razão. Não comer o pão alheio, não usurpar profissão, cada um tem seu destino e o carrega pela mão.

Numa dessas fugas atrozes, em busca de condição, de trabalho e provimento fora longe atrás do pão. Em terra um tanto inóspita, um varão trabalha bem, acordava muito cedo para procurar um bem. Às noites tristes e sombrias um jovem agonizava, sobre a febre da saudade, da perda da sua gente, dos pais que lhe adoravam. Vivendo precariamente as intempéries do fim, distante ficou seu sangue e uma preocupação ruim. A fome crassava os fortes, quem dera os fracos sem mão, sem a proteção diária com zelo de um coração. Um irmão tem que ser pai, o pai tem que ser irmão, uma família nas horas da triste recordaçao, no âmago de sua alma, o jovem pedia a Deus, que lhe mostrasse uma porta para libertar de uma vez, a vida que persistia em vencer a aridez.

Fora lhe dito que ao longe, em uma cidade boa, havia emprego à vontade para quem vivia à toa. Partiu com raça e com força que lhe dera os genitores. Foi trabalhar nas emergências sob a proteção do estado. Aceitou um prato feito de um destino contrariado.

Os dias áridos de sol que queimavam sua sina, ele sem perder a rota, sem descuidar da rotina, trabalhou, juntou dinheiro, pra voltar com mais vigor, trazendo aos que ficaram o afago seu amor. Na noite véspera da volta, não dormiu perdeu a calma, sua ansiedade era tanta queria ver muito cedo as flores que a vida planta. No abrigo onde brigava com toda sorte de inseto, viu nas costas uma marca, de uma picada, era certo, fora ofendido por vermes, ou por um barbeiro incerto.

Nesse tempo que ficou, longe dos seus bem queridos, não pensou em coisa alguma só levou ao vento aflito, muitas preces para um santo, que era um dos protegidos. Acreditava na sorte, que teria o bom final, encontraria uma alma que lhe seria igual, poderia dividir as mágoas e um bom tesouro e, semeariam juntos as pérolas da cor do ouro, os filhos que Deus daria para o mundo conduzir, ensinar suas virtudes e a paz distribuir.

Chegando em casa achou, seus irmãos despercebidos, dos perigos desta vida de um quinhão que era perdido. O mais novo enveredou num mal costume aguerrido, passava os dias nos bares, com o pouco adquirido.

Heleno não compreendeu a vista que vislumbrou, para quem não tinha posse, pouca coisa de valor, tudo que seus pais deixaram fora a honra e um bom nome, só que isso no nordeste não garante o passar fome. Ele, um tanto contristado, tinha que tomar atento, uma posição de garra para suprir o sustento. Foi então para cidade, em seus bolsos um forte alento, possuía um bem possível para comprar alimento.

Mesmo com idade certa não pensava em casamento. Queria só seu destino coroado de sucesso, criar seus irmãos queridos, suprir como um pai o devido aos desejos inocentes. Na cidade, ainda estranho, pouco sabia dizer, aos que lhe perguntasse sobre um bom proceder. Apenas pesava reto que o pão a que tinha fome ele sim traria certo.

Com o pouco que tinha em mãos fez mais do que se esperava de um jovem muito moço que a tragédia criara.

Na feira era o costume das pessoas se encontrar... Todos que morassem longe no sábado iam comprar as provisões necessárias para a vida sustentar.

Este moço, Heleno nobre, filho de família pobre, sabia se comportar... Na banca do seu João, um senhor comerciante, ele comprava farinha como fora diamante. Quem lhe atendia agora era uma moça apaixonante. Era Nanú. Filha esperta, que cedo se libertou da posição feminina... Seu pai lhe dava valor.

Ela sempre ia com o pai a quem devia favor. Nesse dia, embora tarde, ele enfim pode comprar uma carga de alimentos para os seus alimentar. Perguntara à Nanú se ela tinha um tempinho, para lhe falar presente... Não se sabe com que força ele então a perguntou, se ela tinha um pretendente, pois por ela se encantou... Nanú, mal lhe respondeu, corada com seu pudor... “Não tenho nenhum compromisso, espero que entenda isso, que não será com o senhor...”

Heleno contrariado da moça se desculpou, saiu dali cabisbaixo pensando naquela flor... Era um doce, um encanto, a filha do vendedor. Mas amor é coisa errada pra quem nasce sem o dom da conquista, da fortuna de um sonho vencedor. Ele apenas sabia que, a sorte tardaria para lhe dar algum valor.

Voltara ao seu rancho-casa, onde a prole encontrou. Os pequenos esfomeados e o mais velho embriagado reclamando um protetor... Heleno se desdobrava para ser pai e mãe daqueles que não plantou... Mas o tempo passa rápido. Heleno cresceu, um belo homem se tornou... Apenas em alguns anos seu destino enfim mudou.

Segunda parte..

Evan do Carmo
Enviado por Evan do Carmo em 01/04/2009
Código do texto: T1517312