Pesadelo - 2a. Parte

Após terminar de entrar o caixão na sua imunda cova, os rapazes se afastam daquele estranho coveiro de riso cacarejante. Não sem um deles lembrar que poucos dias antes do enterro do seu amigo, que há pouco ocorrera, eles estavam andando pela parte mais sórdida da cidade, cada um contando mais vantagem sexual que o outro, até que eles foram interpelados por um monte de trapos, que naquela escuridão, dificilmente poderia ser confundido com o ser humano que realmente era. A mulher , aparentando seus 40 anos por causa de sua difícil vida, segurava o que parecia num primeiro momento, uma criança de não mais que 6 meses de vida , esquelética, com olhos vítreos, que procurava abocanhar um dos mamilos do seio murcho de sua mãe. Vendo aquela cena, os jovens olham entre si, não precisando de palavras para a ‘diversão’ que poderia ser feita. Um dos jovens remexe em um de seus bolsos , como se fosse apanhar algum trocado. Enquanto a mulher balbucia agradecimentos , o outro rapaz toma a criança de seus braços e sai correndo rindo como um desvairado pela presa apanhada. A mulher tenta gritar para que tragam sua criança, mas antes é atingida por um potente murro que a deixa semi-acordada. Ela não percebe direito o que o rapaz tira do bolso, mas percebe que é brilhante e comprido, nada se parecendo com a desejada moeda. O outro rapaz rasga os retalhos da roupa da mulher e coloca um dos pedaços, como uma bola de pano, em sua boca. Logo depois ele a amarra com os braços para cima e finalmente praguejando pelo trabalho, consegue também imobilizar suas pernas.

O outro rapaz olha aquele corpo desnudo que apesar de sujo têm todo o delinear do corpo feminino e lentamente se aproxima dos seios dela. Primeiro ele aperta um em suas mãos, para inchar e criar volume. Ela engasga, porque a pressão de seus dedos é muito forte. Lentamente ele aproxima sua boca de seu mamilo e começa a sugá-lo com força, para ver se consegue trazer o leite à tona. Mesmo apavorada ela sente um certo deleite, pois seu corpo nunca foi desejado desta maneira, seu instinto quase animal é de abrir suas pernas, revelando seu sexo úmido. Ledo engano dela, o rapaz começa a lentamente manusear sua lâmina e , penetra-a num movimento primeiro retilíneo, para depois começar a subir a faca, fazendo que sua vagina seja destroçada pouco a pouco. Ela grita de dor e desespero, enquanto ele morde seu seio com força, arrancando seu mamilo esquerdo numa dentada. Ele cospe o pedaço de carne de sua boca e se deleita com a visão de sangue escorrendo pelo seu corpo. Retirando a lâmina de dentro dela, ele começa a espetá-la à esmo, como fazemos com a lingüiça que preparamos nosso churrasco. Os ferimentos são profundos e a consciência dela começa a abandoná-la, o outro rapaz ri e incita o outro a amputar o seio direito dela inteiro, o que o outro faz sem pestanejar. O outro rapaz solta sua boca, deixando que ela respire mais, impedindo que desta forma ela desmaie mais rapidamente.

Cansado de cortá-la, o outro cede a faca para que seu amigo também ‘se divirta’. Ele então, segura nos carnudos lábios dela e , como se fosse toucinho, ele corta seus lábios,para revelar uma gengiva apodrecida e quase sem dentes. O ruído que sai de sua boca é um gorgolejar indefinido, sem sentido e sem força. O rapaz então aproxima a faca nas pálpebras dela e coloca pelo canto do olho esquerdo, e, como se fosse a rolha de uma bebida fina, retira seu globo ocular. O olho, derreado e viscoso, ele toma em suas mãos e, não com muito esforço, coloca na boca da mulher, para que ela engula. Os rapazes não param de rir e, ao mesmo tempo , começam agora a chutar o corpo, já quase sem vida, rindo do quanto é fácil divertir-se com o sofrimento alheio. Eles então se lembram de seu companheiro que tinha sumido com a criança, ele então correm na direção que este havia partido. Logo o encontram e este somente fala que ‘um certo cachorro ganhou sua ceia de Natal mais cedo este ano’.

Voltando de suas divagações, ele olha no rosto de seu amigo, tentando encontrar algo como tristeza, arrependimento ou penúria. Mas ele vê que o olhar que seu amigo têm é como se nada tivesse acontecido, que a morte de seu amigo não fora talvez, uma punição de Deus por um comportamento tão odioso. Não, o que ele via nos olhos do seu amigo era o mesmo olhar de juventude, despreocupado e cujo ciência é que o quintal é o seu mundo, pouco importando o quanto os outros tenham direito também à isto. Ele sente naquele olhar a indolência e a vicissitude, o descaso e o desapego. E ele percebe, em si mesmo, que seu olhar não é mais aquele, que seu olhar agora é triste, maduro e com um segredo que ele sabe que cedo ou tarde terá que prestar contas, seja aqui ou em qualquer outro lugar. Percebe aos poucos, que o conforto repousante que o travesseiro até então lhe trazia, não mais seria o mesmo, antevia, como uma profecia apocalíptica que não têm-se como evitar, que suas lágrimas rolariam muito neste travesseiro, que as sombras na parede de seu quarto tomariam vida e , como num Sabá , invocariam terrores quais que ele não conseguiria despregar seus olhos, mesmo sentindo sua alma partindo-se em extrema agonia. Sentia que abandonava o idílico momento da juventude e se afundava no lento e profundo desesperar que espera acolher à todos. Sentia suas forças aos poucos abandoná-lo, mal conseguindo entender as palavras de ‘você está bem?’ de seu amigo, agora tão distante e vivendo como que em outro Universo. Separados pela consciência que atinge cada qual em seu momento. Ele fecha seus olhos pensando na sua expiação, que dificilmente passará são, mas sente ao mesmo tempo pena de seu amigo, que apesar da juventude estar presente, também será atingido pelo entendimento das conseqüências.

(Fim da 2a. Parte)

Ricardo Boratto
Enviado por Ricardo Boratto em 16/04/2009
Código do texto: T1542681
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