Mary e seu carneirinho

Mary tinha um carneirinho, e cuidava dele todo dia, pois o carneirinho lhe trazia muitas alegrias.

Ele rolava sempre pela grama e dava seus pequenos balidos, olhando com olhos quase humanos para Mary , que mais e mais adorava seu doce carneirinho.

Mas um dia, como sempre há um dia, levaram seu pobre e doce carneirinho, pois as despesas de casa eram muitas para os pais de Mary e, julgando que o carneirinho pudesse lhe ser de alguma valia, levaram em um cabresto, o pobre carneirinho de Mary.

Mary chorava e soluçava, seus olhos presos àquela cena, inconformada que não poderia alterar o que estava sendo feito, ao mesmo tempo incrédula de que algo que lhe era tão importante, não ter significado nenhum para outrem.

Mary mudou, nunca mais foi a menina sorridente e feliz que era, suas respostas eram em monossílabos quase inaudíveis, pois seu carneirinho que tanto era querido há muito havia se ido, vivo somente em suas doces lembranças.

Seus pais atinavam que Mary tinha mudado por causa de seus hormônios, mas não, era a tristeza que se solidificara em sua carne. E o ódio. Sim, a tristeza pode existir e gelar tudo o que o cerca, mas o ódio é maior, o ódio faz a tristeza ser mais gélida, tão gélida que queima, queima eternamente porque têm razão de existir. E Mary queimava de ódio, o ódio frio que faz os olhos das pessoas brilharem de maneira estranha, daquele jeito que a gente olha e vira logo o rosto, com medo que aquilo de alguma forma nos atinja. O ódio frio que engolfa e engole, o ódio que não se descreve, mas que marca de forma indelével. Será que um dia Mary poderá expressar isto ? Ou será que Mary irá arquitetar mirabolantes planos de massacre para fazer que sintam o que ela tanto sente ? Saberemos um dia a resposta ?

Ricardo Boratto
Enviado por Ricardo Boratto em 27/04/2009
Código do texto: T1562648
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