O pardal (2ª parte)

Os pardais não costumam ser solitários, há sempre um bando em algum canto,

espalhados em praças, ruas ou casarios abandonados como enxames de abelhas,

colorindo a cena de um cinza amarronzado com pintinhas pretas,

emitindo um som nada melódico o qual ainda não consigo discernir,

pássarinhos vagabundos, sem pedi-gree, vira-latas dos ares, são os pardais,

e eu permaneço entre eles agora questionando se sonho ser um homem transmutado em pássaro,

ou um pássaro que quer se transmutar em ser humano, difícil dúvida não respondida,

as penas coçam, o bico incomoda, a fome ataca e minhocas continuam repugnantes,

ás vezes alguém se compadece e joga umas migalhas de pão e a disputa é intensa,

e em um momento imagino ser beijado por uma pardal (ou será rolinha a fêmea deles?),

mas continuo confuso se fora realmente um gesto de carinho ou a busca de uma migalha,

é, pelo jeito, não só os humanos confundem as coisas do coração, preciso ser mais cuidadoso,

um coração partido não me deixaria durar muito tempo, afinal deve ser tão minúsculo,

nem consigo sentir direito ele pulsando por baixo de minhas peninhas marrons,

só sei que ele está por aqui, em algum lugar, à espera não sei de que ou de quem,

enquanto imagino uma alternativa para acordar desse sonho e voltar à realidade,

voltar ao mundo onde não posso voar e a solidão é uma constante em cada momento,

onde mantenho meus sentimentos aprisionados em uma gaiola no fundo de um quintal,

e minha mudez não me permite seguir as letras das músicas que aprecio,

ocultando-me em mim mesmo, como um morcego em uma caverna,

talvez seja melhor continuar sonhando, continuar sendo um simples pardal...

PS: Não deixe de ler a 1ª parte para maior compreensão do conto.