Uma História de Verão

Em algum lugar nasce uma flor. Vejo vida numa flor. Vida! É tudo tão simples, é tudo tão comum.

Tenho medo da fé, da razão e da emoção. Sou guiado por um coração cego, porém tenho um espírito forte. Sou realista, dogmático e emotivo. Estou perdido!

O divino não pode me ajudar. O divino não pode me ajudar!

Deixo escapar um grito agudo, o som se perde no ar. Ninguém pode me ouvir! Ninguém quer me ver! Mesmo assim não estou perdido. Escondi-me em mim mesmo! O mundo acontece ao meu redor... É um espetáculo mudo, sem espectadores, nem aplausos. Não há personagem principal, nem quadjuvante, a mocinha fugiu com o diretor. O contra-regra e o vilão estão se pegando atrás da cortina. E eu sou um figurante sem emprego.

O divino não pode me ajudar. O divino não pode me ajudar!

Estou no terraço, à cidade continua acordada em meio à madrugada, bebi um pouco. O essencial para ter coragem! Mas coragem de quê? Do parapeito olho para baixo, para os carros minúsculos lá no asfalto. Não! Não estou muito alto. Eles sim é que estão muito, “muiiito”, lá embaixo.

Continuo olhando para baixo, percebo uma lagrima escorrendo pela minha face, não entendo o porquê dela. Há muito tempo não entendo os “porquês?”. Também não sei o que faço aqui neste lugar, tão alto... Não planejei nada, e ela, a lágrima, espontânea corre livre no meu rosto.

Sinto o vento abraçar meu corpo. Liberdade... É como se eu pudesse tocá-la.

Abro os braços procurando encontrá-la para que possamos nos abraçar, como velhos amigos depois de um reencontro inusitado, mas ela não vem. Subo no parapeito, estou no limite, até onde meus pés podem ir. Meu corpo não pode ultrapassar, mas a liberdade esta ali, logo na minha frente, a alguns metros de distância, num lugar onde meus pés não podem chegar.

Eu preciso dela. Eu necessito dela para sobreviver!

Busco forças num suspiro, sinto o ar gelado no meu diafragma. É tudo tão intenso... O sangue corre em minhas veias, meu coração bate em ritmo acelerado. Única opção! Estou tenso, meus músculos se contraem como se pudessem prever algo. Meu espírito quer! Meu corpo não.

Num esforço quase sobre-humano consigo um último passo.

Segundos depois meu corpo aparece inanimado no asfalto. Minha alma, leve, reencontra a liberdade, a tão sonhada liberdade, depois de alguns passos no ar.

Hudson Eygo
Enviado por Hudson Eygo em 22/05/2009
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