Educação Violentada

Os pais não queriam, mas quando é escolhido não tem força contrária que resista. A mãe quando se conscientizou que não tinha mais jeito ficou uma noite inteira a chorar.

- Por que meu Deus essa escolha?

Nessa noite a mãe lembrou-se da filha ainda criança. Os olhos da criança sempre cheios de esperança. Quando ela nasceu todos na vizinhança vieram conhecer a luz no fim do túnel. Essa menina cresceu e decidiu trabalhar na área de educação. Esse era o seu ideal de vida e o de morte. Seus pais queriam como carreira profissional a área administrativa, por achar que assim ela poderia dar continuidade ao trabalho nas suas padarias.

Das dores graduou-se em matemática para decepção de seus pais, parentes e amigos. Ninguém sabia explicar ao certo o que passava na cabeça dela, querer ensinar num país como o Brasil, que não há valorização alguma para os profissionais na área de educação. Um erro dessa menina, ela tinha que ter se formado em administração de empresas porque certamente teria uma melhor qualidade de vida.

Já formada Dores foi ensinar em uma escola pública do subúrbio de Santonópoles. O local onde ficava a escola era igual à instituição escolar que ela fora ensinar. As paredes das casas eram todas sem reboco e, além disso, essas mesmas paredes tinham todas como enfeite marcas de tiros.

Depois de um mês ensinando na escola Governador Onópoles, Das Dores tomou conhecimento que aquele subúrbio da sua cidade era o mais violento. Mas mesmo sabendo de todo o perigo criou mais força para encarar a sua missão. As ruas não eram asfaltadas, as casas utilizavam água e energia elétrica de forma desviada. Esse local era estranho para ela, a sua realidade era outra.

Chegando à porta da escola às sete e trinta da manhã ela foi recebida pelo porteiro. Esse estava de chinelo, com uma calça e uma blusa social. E em suas mãos ele carregava uma bíblia. Suas roupas estavam machucadas, seus dentes eram amarelos e o dente canino já não tinha mais. Suas unhas estavam grandes e sujas e os olhos sujos com a remela da noite anterior. Foi esse o primeiro contato de Das Dores com a tão instituição escolar sonhada pela esperança, dessa simples e única professora, em mudar o modelo da educação pública.

- Bom dia, quem é a senhora? Para se matricular nisso aqui só ano que vem. Parece que não ver as coisas na televisão, no rádio, você não viu? Vai ter que prestar mais atenção no prazo de matrícula minha filha, passar bem, se não deseja mais nada....

Das Dores muito assustada responde ao senhor que não veio se matricular, que ela quer conversar com a diretora ou com a vice-diretora, pois é a nova professora de matemática e que ela está chegando uma semana antes de iniciar o ano letivo porque foi chamada às pressas pela direção.

O jovem porteiro ficou muito sem graça, pediu mil desculpas a nova professora e lhe acompanhou até a direção. Ao chegar na diretoria, ela ficou em uma anti-sala por duas horas a espera de ser atendida. Dez horas da manhã a secretária da vice-diretora pediu pra ela entrar na sala. A vice-diretora conversou com Das Dores e apresentou a estrutura da escola. Disse que ela poderia fazer tudo menos reprovar alunos. A professora muito inocente indagou a vice-diretora:

- Não entendi, como eu vou aprovar alunos que eu sinta que não tem condições de seguir?

. A vice-diretora que até aquele momento estava muito simpática com a nova professora ficou furiosa com a sua indagação e lhe respondeu grosseiramente:

- Esses alunos vão seguir para onde? Você pensa que vai levar algum desses para que lugar? O máximo que eles vão chegar dentro do meio acadêmico é ser ajudante na área da limpeza dentro da escola. Só assim eles vão se perpetuar por aqui. Ou então, como objeto de estudo minha flor, principalmente dentro das ciências humanas, as disciplinas como a Sociologia do crime, que o objeto alvo de estudo é o público o qual você vai lecionar. Assim como pesquisar as mulheres marginalizadas por se prostituírem, dentro dessas pesquisas você vai ter seus alunos no meio acadêmico. Estamos conversadas?

Das Dores depois de ouvir tudo isso não disse mais nada, ficou sem ação, perplexa com o que ouvia e via. A vice-diretora lhe entregou a caderneta das turmas que ela iria lecionar. Saindo da diretoria, ela foi andando pelos corredores procurando a sala que iria ensinar no dia seguinte, porque na segunda o dia qual chegou só foi para conhecer a diretora, a qual não conheceu, e se familiarizar com a escola.

As paredes da escola retratavam o lugar. Não tinha como definir qual cor se encontrava as paredes. Ela entrou em uma sala que estava uma menina estudando sozinha, sentou-se do lado da aluna e se apresentou. Essa aluna ficou a princípio muito assustada, mas com o decorrer da conversa ela foi se abrindo para a sua nova professora. Das Dores indagou a jovem aluna o que ela quereria fazer no futuro, pois as palavras da vice-diretora lhe incomodou profundamente. A menina olhou para o chão e disse que certamente iria trabalhar como sua mãe, vendendo cachorro-quente na frente da escola e nas festas populares. A professora lhe perguntou olhando nos seus olhos:

- Mas é isso o que você quer fazer da sua vida?

E a menina responde.

- Não professora, eu queria ser igual a senhora, para poder mudar isso daqui!

Depois disso a nova professora foi até ao banheiro e chorou, pois foi essa mesma vontade que lhe impulsionou hoje estar naquela escola ouvindo e vendo tudo isso. Com essa conversa a professora ficou mais confiante. Com os olhos ainda cheios de lágrimas ela procurou papel para enxuga seu rosto, mas não encontrou. Diante disso ela olhou o local a sua volta e viu todo ele molhado de mijo e a privada suja até a tampa.

Os pais de Das Dores estavam muito preocupado com a vida de sua filha. “Ensinar, mas pra quê, aonde ela vai chegar com isso meu Deus?”, pensava os pais. A diferença entre Das Dores e a aluna que ela encontrou na sala sozinha é que essa aluna não tem a chance de escolher o que fazer da sua vida, já Dores teve essa oportunidade, para infelicidade dos seus pais.

Ela chega em casa e seus pais estão na sala a sua espera. Sua mãe percebeu que sua filha não é a mesma que saiu pela manhã. Seus pais conversam e pergunta o que ela achou do seu novo local de trabalho. Das Dores diz que gostou do local e que a vice-diretora lhe pediu para ensinar os três horários. Seu pai levanta da cadeira e diz que não vai permitir isso.

- Minha filha, trabalhar lá pela manhã é arriscado, imagine pela noite?! É melhor você ficar trabalhando lá só pela manhã.

A mãe também, se mostrando muito preocupada, é mais radical e aconselha que ela não ensine nesta escola.

- Minha filha se eu soubesse que você iria se meter nessa vida eu não tinha deixado você estudar. Ficava em casa mesmo e agora já estava casando. Foi erro esse negócio de formação, olhe o trabalho que você está nos dando agora.

Das Dores não quis bater-boca com os pais e foi direto para o quarto. Seu dia tinha sido cansativo demais. Ela tinha visto e ouvido muita coisa para um dia só. Toda teoria que aprendera na faculdade não foi suficiente para imaginar a verdadeira situação do local que ela sonhou em ensinar, a escola pública.

Claro que Das Dores queria ensinar em instituições de ensino particulares também, mas o ensino público era seu alvo. A escola pública precisava mudar urgente, segundo ela.

Na noite de segunda para terça-feira, a professora quase não dormiu ficou revisando a sua primeira aula, fazia e refazia os cálculos. Não poderia errar no seu primeiro dia, tinha que impressionar a classe como uma professora competente que era.

Ao acordar, seus pais já estavam na mesa tomando seu café. Ela levantou, sentou do lado da mãe, mas antes disso deu um carinhoso beijo em seu pai. Ela estava muito feliz, era um sonho de vida sendo realizado. Ensinando. Esse foi o seu ideal.

A professora tomou seu café e foi para o ponto esperar sua condução. O primeiro ônibus não parou, porque estava muito cheio, já o segundo não parou, não porque estava cheio, mas porque o motorista não quis parar. Das Dores tentou acalmar um grupo de pessoas que se irritou com a falta de respeito do motorista e por essa irritação xingou a quarta geração do condutor. A professora era uma pessoa que entendia o outro e sempre se colocava no lugar oposto ao seu para tomar as suas decisões. Justificou para as pessoas a sua volta que deveria ser o atraso e por isso ele não parou, preferiu pensar assim, era melhor. Logo, logo vem outro. Uma senhora que estava ouvindo a conversa disse a professora e ao grupo de revoltosos.

– Esse é o nosso problema, agente se conforma com tudo, o que essa senhora acabou de falar: “logo, logo vem outro!”. Assim agimos na nossa vida. Vem um prefeito, um presidente, um governador e agente sempre escolhe mal, porque sempre vem outro. Temos que parar com isso e começar a fazer e exigir as coisas já. Vocês tinham que pegar a placa daquele ônibus e denunciar o motorista. Eu tenho certeza que muito de vocês tem horário a cumprir, assim como ele.

Das Dores se calou e logo, logo veio outro realmente e ela foi para o seu primeiro dia de trabalho. Para chegar à escola ela andava em torno de quinze minutos. Não entrava ônibus na rua que ficava a escola Governador Onópoles. Ela saltava e andava até a escola. Andando, ouvia muita piada dos moradores, paqueras dos garotos que ficavam na porta pela manhã colocando o passarinho para tomar sol.

Chegando à escola o porteiro levantou da sua cadeira, abriu o portão para a professora e deu um bom dia sorridente bem amarelo e sem o outro dente canino. Ela estranhou porque no outro dia ele estava sem um e hoje já amanheceu sem o outro. A professora levantou a cabeça, colocou o pé direito como o primeiro pé ao passar pelo portão e foi em direção à sala. A primeira sala do dia era a seis. A aula começava às sete e trinta, mas às sete e vinte e cinco quase não havia alunos na sala. Ela entrou, deu bom dia aos dez alunos que lá estavam e se sentou.

Já eram oito horas e só tinha doze alunos na sala enquanto na caderneta tinham cinqüenta matriculados. Ela começou se apresentando e em seguida pediu que a classe fizesse o mesmo. Os doze alunos que lá estavam se apresentaram e deixaram como mensagem para a nova professora que ela não se tornasse uma professora como os outros que eles tinham. Pois esses eram desinteressados e não acreditavam no potencial deles.

- O que nós queremos aqui é que nos vejam como pessoas que irão chegar a algum lugar. Se a senhora não acredita no que você faz, certamente não vai acreditar em mim. Então, professora eu lhe peço desde já, vamos trabalhar sério.

A fala do aluno derrubou todo discurso apresentada pela vice-diretora e a concepção dos seus pais. Pronto, a senhora do ponto de ônibus tinha razão eu tenho que começar já. E a primeira aula da nova professora foi nota dez. Os alunos adoraram e toda a escola começou a querer saber quem era a professora Das Dores. Nos outros turnos ocorreu a mesma simpatia. Pronto era tudo que ela queria que ocorresse. A sua escolha foi acertada. Era um sucesso.

Mas a professora ainda continuava muito incomodada com a estrutura da escola. As cadeiras não eram suficientes para o número de alunos, a sala era pequena para suportar a quantidade de matriculados, os banheiros eram freqüentemente sujos, a biblioteca não existia na escola e o pior era a falta de respeito que os professores a tratavam.

Na quinta-feira no seu terceiro dia de aula, quando a escola só comentava sobre a nova professora, o professor de física a chamou para conversar. O queixa desse professor era que agora os alunos estavam cobrando conteúdo dele.

- Quer dizer que a senhora está incentivando os alunos a cobrarem conteúdo? Você sabe o que significa isso? Como eu vou dar em uma turma a terceira Lei de Newton se eles não sabem nem a primeira? Tome cuidado com as afirmações que você faz na sala e as motivações que suas aulas estão dando aos alunos. Porque você tem seu jeito de dar aula e os outros professores têm a maneira deles. E aqui o sistema de aula tem que ser o nosso. Vou lhe avisando porque achei você muito simpática e não quero ver essa beleza toda longe de mim.

E continua.

- Vou te apresentar a outra professora de matemática, Itaparica. Ela já está quase se aposentando, só falta mais um ano de ensino e ela vai descansar. Eu acredito que chamou você para lecionar aqui por causa da demonstração de cansaço dela. Ultimamente ela não dar mais aulas, quer dizer tem uns quatro a cinco anos que ela não dar aulas. No final do ano ela aparece e passa um trabalho. Você precisa conhecê-la.

Das Dores entra na sala dos professores e todos olham para ela com certo desdém. O professor de física se dirige aos outros professores e avisa que é ela que está fazendo toda essa barulheira. A professora Itaparica se levanta, olha nos olhos dela e diz:

- Pare de ser romântica porque isso tudo não vai te levar a nada. O professor de física me pediu para te dar umas aulas como proceder. Nem pense em ensinar função, porque eles não sabem equação. Você só deve ensinar as quatro operações. Fique o primeiro semestre passando adição e subtração. No segundo semestre revise bem, passe umas três listas com mais de cem contas, quando estiver no meio do segundo semestre dê a multiplicação e só no final, se der tempo você introduz a divisão porque a divisão é no segundo grau. Você sabe, essa operação possui um grau de complexidade maior, então deixe esse trabalhão para o futuro professor.

A nova professora decidida a brigar pelos seus direitos e deveres respondeu friamente a velha professora.

- Mas temos que começar a fazer já o que deve ser feito. Se eles não sabem equação e por isso eu não posso dar função, então eu vou dar equação, para o próximo professor, se caso não der tempo pra mim, ensinar função. Professora as grandes coisas se originam de pequenas coisas. Eu aconselho começarmos logo porque só assim teremos ânimo para brigar por melhores salários e melhorias no nosso local de trabalho. Porque esse espaço físico reflete as nossas ações. E o que é pior, ele reflete a gente. Temos que mudar. Eu exigo mudança.

Itaparica ficou mais nervosa e gritou.- “ Pare de inocência, isso está me dando nojo!”. E pede o coro da sala dos professores. – “A culpa é de quem?”, Indaga Itaparica. E os professores em uníssono gritam: “A ESTRUTURA!”.

E continua com seu discurso.

- Você viu minha princesa, é a estrutura. Você precisa fazer a lição de casa direitinho. Não queira ser superior a estrutura, porque ela te devora. E outra coisa, nem pense em decifrar a estrutura. Eu estou gastando meu português com você porque vejo uma imaturidade, mas não me estresse. Quem manda aqui é a estrutura.

Das Dores sem perder a força fala mais alto que Itaparica.

- Você deve mesmo é se afastar daqui o quanto antes. Eu vou conversar com a diretora e pedir uma providência quanto a isso.

Todos riem. – “Diretora?”. Gritou o professor da disciplina química.

- Eu estou aqui há dois anos e só sei que ela tem um carro vermelho, mas ver, eu nunca vi. O meu único contato é com a vice-diretora. Das Dores, por favor, eu estou vendo que você é uma pessoa engajada, comprometida, mas saia dessa.

Das Dores sai da sala e corre até o banheiro, já era cinco da tarde faltavam duas horas para ela começar seu terceiro tempo. No turno da noite ela ensina em duas turmas, a sala dezoito e a sala vinte. A sua aula na sala dezoito é sempre tranqüila, só a da sala vinte que ela não tem gostado de um grupo, pois eles só vão pra aula para fazer tráfico de drogas. Na quinta-feira, seu segundo dia de aula entra na sala dois policiais e entrega um envelope ao senhor X. Assim é que chamam esse aluno.

Quando ela viu os policiais da ronda escolar entrar na sala pensou que teria prisões, tiroteio, mas não. Eles entraram e conversaram como amigos com esse aluno. O que ela estranhou realmente foi a troca feita em plena aula. Os policiais deram o envelope ao estudante e esse deu muito dinheiro a eles. Na saída da aula ela ficou sabendo por uma estudante que aqueles policiais sustentam o crime organizado do subúrbio onde fica a escola.

Quando os policiais entraram na sala os ratos correram de uma ponta a outra. Desde aula passada que ela viu os ratos, mas eles não estavam tão nervosos como naquele dia. Os ratos corriam e se batiam nas cadeiras.

Das Dores não comentava essas coisas com ninguém em casa. O medo da professora era de ser proibida de maneira forçada a largar a profissão. Porque essa era a vontade dos seus pais, que ela largasse essa ilusão. No ônibus de volta para casa entrou um adolescente pedindo esmolas e ela perguntou se ele não estudava. O adolescente olhou para ela e disse que estudou até a oitava série. A professora empolgada em saber que ele tinha estudado perguntou, porque não continuo os estudos.

- Tia, eu sabia que daí pra frente não teria mais merenda, então pra que eu continuar estudando? Desde cedo precisei trabalhar e a escola não iria me dar o que eu precisava. Dinheiro para comer. Os meus professores abriram logo meus olhos, me avisando que eu não iria para lugar nenhum. Tive sorte de ter tido professores que me alertaram.

Das Dores chega em casa beija seus pais e entra no quarto. Começa a pensar um meio de tentar motivar os seus colegas. Ela cosncientiza-se que não vai adiantar trazer para seu lado só os alunos, mas era de fundamental importância motivar seus colegas. Fazer com que eles vejam a importância e o valor de ser o que eles escolheram fazer em sua vida profissional.

No outro dia, ela começa a sua mesma rotina. Esse já era o seu quarto dia de trabalho. Era uma sexta-feira. Chovia muito e sua mãe não tinha acordado bem. Ela pede para sua filha não ir trabalhar, para lhe fazer companhia em casa. Mas Das Dores pede para uma prima sua ficar em casa com a sua mãe porque ela não poderia faltar ao trabalho assim. Ela alega que tem um programa para seguir e se começar já faltando é problema.

Talvez fosse pressentimento de mãe naquele fatídico dia. A mãe está ligada ao filho para vida toda. Ela sente quando ele está bem e sente ainda mais quando algo os deixa tristes. E Das Dores estava sentindo a dor de ter escolhido o ensino como profissão.

A nova professora chega à rua que vai dar no colégio e é barrada. Ela e nem ninguém pode passar porque os traficantes fecharam a rua e não querem ninguém passando por ali até segunda ordem. Tudo isso porque os policiais que foram na escola na semana passada foram transferidos. Houve alguma denúncia. E os traficantes para se vingar da população não deixou ninguém sair nem entrar. Depois de duas horas em pé esperando eles liberarem Das Dores toma conhecimento que seu aluno X é primo do traficante.

Conseguindo chegar ao colégio a nova professora é informada que a vice-diretora quer conversar com ela. Ao entrar na sala da vice, essa pega o telefone e faz uma ligação. Das Dores é convidada a sentar. A vice-diretora depois de uma breve conversa passa o telefone para Dores. Era a diretora do outro lado da dizendo a nova professora de matemática que ela não criasse problema com os antigos professores. Pedindo também que entrasse no modelo que eles trabalhavam porque é assim que as coisas são e assim será.

Das Dores ia tentar conversar com a diretora, mas ela foi ríspida.

- Só eu falo meu benzinho. Agora pode ir dar sua aula. Não crie problemas. Você, como uma boa professora de matemática, resolva os problemas.

A nova professora deu sua aula e, como sempre, muito respeitada e querida por todos os seus alunos. Pela manhã foi tudo tranqüilo a aula ocorreu da melhor maneira possível.

No turno da tarde a aula atrasou um pouco também, pois os traficantes fecharam a rua novamente. O protesto durava em torno de duas horas mais ou menos. Eles queriam os policiais que faziam a ronda escolar do bairro de volta. A mudança desagradou tanto os traficantes quanto a população que estava sendo penalizada pelas ações deles.

Com o término das suas funções no segundo tempo, a professora põe-se a se preparar para o terceiro tempo. Até quando ela agüentará esse trabalho. O dia todo de trabalho não era o suficiente para que as coisas acontecessem naquele lugar.

Ela entra na sala dezoito e a aula foi muito interessante. Os alunos participaram e decidiram discutir na outra semana, por sugestão da professora, o seguinte tema: O porquê da falta de vontade política com a educação?

Terminando a aula da sala dezoito, ela foi em direção a sala vinte, a última do corredor. Seguiu empolgada, pensando em quem convidar, entre os professores, para poder fazer essa discussão também nas suas turmas. Pronto, ela tinha encontrado a maneira de envolver seus colegas.

Enquanto caminhava ela viu alguns alunos rabiscando as paredes e na sala dezenove os alunos também riscavam a parede e quebravam as cadeiras.

Ela se assustou, não com os riscos e as cadeiras quebradas, mas com o ódio estampado nos olhos dos alunos que participavam.

A professora entra na sua última aula do dia e da semana como se fosse a primeira. A empolgação dela era contagiante. No meio da aula soltaram dentro da sala um objeto chamado cordão cheiroso, que de cheiroso não tinha nada. E faltando vinte minutos para terminar a aula soltaram uma bomba dentro do vaso sanitário. Diante desse fato o vice-diretor da noite resolveu suspender a aula.

Das Dores começou a arrumar sua bolsa para sair da sala, os alunos foram saindo às pressas para ver o estado do banheiro. Dentro da sala só ficou X. Ele encostou-se à mesa da professora e pediu ajuda a ela, alegando que o seu conteúdo estava muito avançado e que a outra professora só passava conta. Das Dores ficou imensamente contente porque ela notava um desinteresse muito grande por parte dele.

- Claro que eu te ajudo. Eu estou aqui pra isso. Vamos qual é a sua dúvida?

- Professora quando a equação está toda negativa eu faço o que mesmo para ela ficar positiva, multiplica tudo por menos dois é?

- Não é por menos um.

-Ah! Entendi. Eu acho que tenho outra dúvida.

A porta estava aberta e chovia muito naquele dia e o vento batia a porta todo momento. Como estava incomodando tanto X quanto Das Dores ele levantou e fechou, mais minutos depois ela abriu e bateu muito forte. X inteligentemente foi e colocou atrás da porta uma cadeira, calçando a maçaneta.

Das Dores estava entretida com as dúvidas dele e nem percebeu isso. X num nervosismo tremendo derrubou as coisas da mesa no chão e disse que iria mostrar a nova professora o que era aquela escola. O aluno acreditava que havia sido a professora que tinha denunciado os policiais e diante disso seu primo exigiu uma providência dele.

A sala era escura por causa das paredes sujas e as luzes queimadas, só tinha duas luzes funcionando em um ambiente que teria a necessidade de oito lâmpadas funcionando. As cadeiras estavam em sua maioria quebradas e agora mais uma se quebrava na fúria de X. Ela quebrou a cadeira para mostrar a sua fúria a professora que gritava sem parar.

Ele deu um soco em sua boca e esbofeteou seu rosto para ela se calar e mostrar que não estava brincando. O aluno furioso puxou o vestido de Das Dores. O vestido que ela usava era marrom com uns detalhes verdes no lado. São desses vestidos indianos, era longo, tocava nos pés de Das Dores. Ela foi jogada a cadeira e seu vestido foi lascado por um canivete.

X tinha habilidade em usar o canivete, ele lascou o vestido mais não tocou na sua professora.

Ela ficou sentada na cadeira de sutiã e calçinha. Era um conjunto preto. Seu corpo já deveria está de luto. O aluno arrancou as peças íntimas da sua professora, levantou-a e rapidamente colocou a professora, que não se curvou para ninguém, de quatro. Nessa posição ele violou a única esperança em vida dele. X acabara sepultar a mudança daquele lugar.

Concomitante aquele ação bárbara, outro grupo de aluno já tinha destruído toda a escola. X fugiu pelos fundos e Das Dores ficou no chão sem coragem de levantar. Sua mente doía muito. O peso do mundo estava no seu corpo.

No outro dia ao acontecido. A diretora ligou para vice-diretora e pediu para que ela desse um jeito de abafar esse acontecido. Os professores se reuniram e decidiram que acusaria a professora por abuso sexual se caso ela tentasse levar aquela história adiante. Os pais de Das Dores e ela iriam denunciar o ocorrido. Mas os professores ameaçaram prestar depoimento a favor de X, alegando que ela ficou com o aluno na sala depois que todos foram liberados porque estava com segundas intenções e como ele não quis, ela havia inventado tudo aquilo.

Ninguém iria fazer acusação contra o primo do traficante do bairro. Os professores decidiram ficar do lado do mais forte e não do correto. Mais uma vez eles se acovardaram.Com isso a professora foi mandada embora com a justificativa de ter se insinuado para o aluno. E como esse não quis entrar na insinuação da professora começou a ser perseguido por ela.

Depois dessa experiência Das Dores só é dor.