CARAMBOLAMOROMAMORAMOROMÃ

Gosto da flor que surge na pedra, e da pedra que brota na flor, afinal tudo é natureza viva e morta, tudo é natureza, e nos interessa por demais, ficamos de quando em quando a contemplar toda forma que surge em torno de nós, vivemos numa ilha verde é porque não no Jardim Botânico, só que a gente ainda não se deu conta disso, e ficamos a procura de lugares para ficar a todo o momento cadê o verde que é de todos?!...

Eu penso que nós damos tudo para o esmo e ficamos a esperar o que vai acontecer é preciso entender afinal o verde é ou não é nosso, olha para a paisagem que surge da janela do ônibus, do carro, da sua casa, do avião, somos ou não somos parte deste universo verde que se apresenta com alegria, desprendimento, esplendor, desinteressado, integrado, simples, capaz, situado dentro dos nossos olhos, vivo, amigo, sábio por si só, e a gente daqui a não cuidar, que venha parques e jardins, que venham as palmeiras imperiais, que venham os ipês, que venham os fícus, deixa vir todas as arvores, que eu possa sonhar e acordar com elas cobrindo o meu telhado, que faça sombra no quintal, na soleira, na calçada, na beira mar, nos bares, nos shopping center, que o seu carro fique na sombra quando tiver sol escaldante no asfalto, que tenha arvore em todos os lugares, que eu tropece em arvore, que venha as arvores, que venham as arvores, que todas possam ser felizes para sempre.

Gosto da natureza mais do que de mim, sinto-me dominado, não me vejo fora deste contexto natural, a gente se faz respirável, fico completamente envolvido com esta atmosfera verde, eu aprendi a amar, mais do que eu mesmo sou parte intrínseca deste seguimento, ou eu faço reflorestar, ou eu morro sem floresta, ou eu planto uma arvore, ou fico queimando frente a frente com o espelho que reflete eu vezes eu queimando sério a cada dia na ignorância dos meus dias que invade rápido e vai morar lá, e este lugar ninguém quer ir, embora jogam garrafa de pet no rio, e tudo aquilo que as águas não costumam aceitar, mais ali é meu terreno baldio e ali eu jogo meu lixo; este universo que parece insuperável.

Eu ao passar na feira de produtos extraídos da agricultura de subsistência para efetivar a própria existência no mundo cumulativo e igual quase sempre igual, ali se vende de tudo para que suas famílias possam comprar aquilo que não tem, assim é a vida assim será a vida e tomem high-tech, e levam high-tech para casa seja na zona rural, seja na zona urbana, estamos enchendo nossa casa de high-tech, mas enfim é o mundo moderno que sempre abre e fecha a porta do nosso coração, que abre e fecha a porta dos nossos olhos, que abre e fecha a porta das nossas algibeiras, assim vive a modernidade, assim vive de letra em letra a palavra que nos fazem ler o que queremos é o que não queremos.

Nas cidades, sempre que possível eu freqüentava a feira e, ali, comprava e comprovava a qualidade dos alimentos que ficavam expostos em tabuleiros asseados, sob as arvores que numa formação em L, davam aquele lugar aprazível sempre uma vontade de comprar nem que fosse uma tapioca, os vendedores autônomos e cadastrados traziam suas mercadorias para vender, as terça-feira e sexta-feira; ovos, pintos, galinhas, galinhas, ovos, pintos, verduras, arvores ornamentais, arvores frutíferas, e, no canto da feira sempre tinha aquela água de coco natural, uma delicia que eu virava criança naquele canto da feira, o feirante abria o coco com o facão tramontina e ali mesmo eu sorvia aquela água límpida, cristalina e, bendita entre todas as águas em um sol escaldante de janeiro.

Como sabes bem, gostava de caminhar por toda a feira em L, apreciar o vaivém das pessoas humildes em seu linguajar puritano e regional, seus sorrisos & sorrisos, seus hábitos e costumes, diferentes ao vender seus produtos, enfim tudo ali é motivo de êxtase no que se refere a simplicidade e amor, tudo que eu percebia ao transitar por aquele lugar que eu considero único e bucólico; mas o tempo foi passando de abóbora d'água a torresmo de porco que coisa gostosa, de pimenta malagueta a rosca de polvilho, de galinha d'angola a perus em seu cântico inconfundível, de ovo de pata a ovo de codorna, de tilápia a tucunaré com pinta no dorso e no rabo, de conversa a assunto sobre encomendas futuras, algo para próxima semana, ou quiçá próximo dia de feira, mas algo estava faltando ai eu pensei o que será que está faltando para eu comprar, penso que seja uma muda de carambola, aproximei-me do vendedor, fiquei um tempo a olhar para a planta indefesa, coloquei a mão em umas das suas folhas, olhei de novo, tornei a olhar e, depois de olhar por muito tempo resolvi perguntar o preço da muda de pé de carambola.

Entre tantas plantas frutíferas porque logo a muda de carambola?... Sim a carambola me chamou a atenção pelas suas folhas que parece com corações das pessoas em miniaturas, cada uma folha ao meu ver é um coração verde de cada um, às vezes o verde está esmaecido, que também pode ser o coração daqueles que maltratam as arvores, mas são de qualquer forma o coração verde em miniatura das pessoas, e agora aonde vou plantar o pé de carambola? Tenho espaço exíguo em meu quintal, mas eu vou levar esta muda de carambola, pensei baixinho comigo, e tive uma idéia simples, já que não tenho lugar, nem espaço para que esta planta possa crescer, frondosa e viçosa plantarei numa lata de tinta de 18 litros, bem, comprei terra preta, e furei a lata com a lâmina de uma faca velha, fiz vários furos para quando molhar a planta a água não acumule na raiz e venha enfraquecer toda a estrutura da planta e não seja depósito de larvas do mosquito da dengue; e dentro desta lata eu deixei por mais ou menos uns dois anos e seis meses, quando resolvi transplantar para um lugar definitivo e assim o fiz, adicionei barro e protegi com pedra robustas e sem porosidade, molhava antes das nove horas e depois das quinze horas quando não fosse horário de verão, assim era todo meu cuidado com a arvore, e num dia desse eu de tanto olhar vi nascer entre as folhas coração verde em miniaturas dos homens, uma florinha arroxeada e simpática, e com certeza fiquei felizes com o ato, eu por ver o início do fruto e a arvorezinha por entender a minha idéia e insistência no plantio daquela maneira, e veio os frutos apetitosos, macios, vistosos e de uma cor branca leitosa, enfim uma verdadeira dádiva.

Eu pegava a carambola sem fazer força afinal as frutas ficavam na altura do meu ombro, e como frutificava aquele pé de carambola de tamanho reduzido, e eu distribuía carambola para toda vizinhança, e era uma festa naquela rua, faziam doces, comiam na comida como salada, faziam refresco e eu não podia fazer uso indiscriminado daquela fruta que eu ajudei a crescer, devido a minha pressão regulada, o dia que eu chupava muitas carambolas ia a nocaute, ficava sonolento, dormia muito, muito mesmo.

MANHÃ DE FRUTA*

Na manhã o sereno cai sobre mim

Sinto gosto de maçã e amendoim

Laranja framboesa tem coisa assim

Abacate, melão tem banana do Bonfim

Ela só ela sabe dela

Mas ela olha que coisa bela

Olha o passaro cantando no abacateiro

E o legitimo passaro brasileiro

Todo dia ele canta no meu pomar

O canto do bichinho só me faz chorar

Ela só ela sabe dela

Mas ela olha que coisa bela

Mas ela senhora natureza

MANHÃ DE FRUTA* ESTA FOI A MINHA PRIMEIRA POESIA FEITA NO INVERNO DOS ANOS 70.

E, o tempo foi passando longo e a arvore miniatura pouco crescia, continua dando seus frutos a cada outono e me enchendo de alegria, digo que valeu em todos os sentidos, fica aqui a boa idéia, e a idéia que tiveres não abandone por nada, que a natureza entende, e assim viveremos felizes para sempre.

MOISÉS CKLEIN.

Moisés Cklein
Enviado por Moisés Cklein em 27/06/2009
Reeditado em 27/06/2009
Código do texto: T1670711
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