A noitada

Sabe aqueles momentos em que a única coisa que você quer é ser um avestruz para enfiar a cabeça embaixo da terra? Pois é... Ontem à noite eu saí com uns amigos. Foi até legal sabe? Se não fosse por um pequeno incidente...

Estávamos lá no bar, eu e a Sandra, uma amiga minha de infância, quando passou por nós um rapaz que nos deixou bastante... digamos, agitadas. Ele não nos notou, claro, mas como a minha amiga é bem mais "saída" do que eu, não hesitou e foi falar com ele. Queria ter a coragem dela, conseguiu de cara. Chegou e agarrou, parecia bem simples.

Resolvi criar coragem. Fiz-me prometer para mim mesma que daria em cima do próximo cara interessante que encontrasse.

Bom, encontrei. Era um rapaz com cara de oriental, olhos negros e puxados, cabelos lisos, mais ou menos da minha altura (ou seja, baixo), mas com um certo charme. Bom, eu não vejo outra forma de descrevê-lo mas como um tesão. Claro que passei meia hora respirando fundo e sem pensar em nada para não mudar de idéia. Até que fui lá.

Cheguei nele jogando um papo bem clichê, perguntando o seu nome, mas ele ficava me olhando como quem não entendia nada. Foi quando me passou pela cabeça a idéia de que ele talvez não entendesse português. Como eu sabia algumas coisas bem básicas de japonês, arrisquei um kombanwa e pior ainda, falei que o achava um bishonen. Mas ele continuou a me encarar como quem não entendia nada. A essa altura eu já estava ficando puta e coloquei meus braços em volta do pescoço dele. Foi quando ele abriu a boca pela primeira vez.

-- May I help you?

Inglês. Eu estava tentando a língua errada. Claro, só porque ele tinha cara de japonês e estava no Brasil significava que ele sabia falar português e japonês? Como você é inocente, Sofia.

Meu inglês estava longe de ser perfeito, mas eu resolvi me arriscar naquele momento.

-- Yes. I want you.

-- Excuse me?

Eu já começava a pensar que ele era retardado, o cara não parecia entender bulhufas do que eu estava falando. Já estava ficando impaciente com a impassibilidade dele e acabei sendo curta e grossa demais.

-- Sex.

-- What?

Eu estava literalmente puta. Naquele momento esqueci-me totalmente da minha timidez, estava tão empenhada em conseguir agarrar aquele rapaz que quando dei por mim, aquilo já tinha virado uma questão de honra. Ele continuava a me olhar, meio desconfiado, mas eu realmente não me importava mais. Depois de ouvir aquela voz suave em meus ouvidos apenas fiquei ainda mais decidida. Achei que falar mais explicadamente seria a solução. Então comecei a falar bem pausadamente.

-- Would you like to fuck me?

Achei que dessa maneira não tinha nem como fingir que não tinha entendido. E deu certo. Ele ficou me olhando com uma expressão assustada, mas não falou nada. Foi quando me passou pela cabeça uma possibilidade... Eu tinha que saber isso, caso contrário estaria perdendo meu tempo.

-- Do you like Barbara Streisand?

Mais uma vez ele me olhou com aquela cara de paspalho. Eu já nem o achava mais tão tesudo depois de tudo aquilo, mas era minha honra que estava em jogo.

Felizmente ele não ficou calado e respondeu à minha pergunta. Não foi lá a resposta mais completa do mundo, mas ele ao menos havia me respondido.

-- No.

Pelo menos ele não era gay. Mas "será que ele é comprometido e fiel?", fiquei a pensar. É, a gente pensa nas horas erradas. Se eu tivesse parado pra pensar antes de começar aquela palhaçada toda nada daquilo teria acontecido.

Eu já não agüentava mais tanta impassibilidade, ele permanecia inexpressivo na minha frente. Naquele momento meu corpo encheu-se de êxtase e eu, não agüentando mais aquela situação, esqueci-me de todo o pudor que havia conhecido durante toda a minha vida e meti minha mão direita no meio das pernas dele. Acho que foi este o único momento em que ele reagiu. Fitou-me sério e falou calmamente.

-- I'm sorry, but I'm not lesbian.

Thais Gualberto
Enviado por Thais Gualberto em 04/07/2009
Código do texto: T1681427
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