I did it my way...

Nunca fui muito fã de Frank Sinatra, mas não resisto a um saxofone. Até mesmo aquelas músicas que tocam no shopping nas tardes de domingo são capazes de me emocionar.

Estou sentado em mais um bar da cidade, no balcão como sempre, e sinto os olhares do barman sobre mim. Prefiro nem investir, estou com vontade de ouvir música hoje. A banda está tocando My Funny Valentine, a minha favorita. Quem sabe ao fim da apresentação eu converse com ele.

O pobre rapaz parece ainda não ter notado que eu quero ouvir à banda, oferece-me um drink. Pedi um Blue Velvet, também adoro essa música; vejo-o fazer gestos para o vocalista e para a minha surpresa começam a tocá-la. Este é realmente um rapaz interessante, acho que ele vale a pena. Um sorriso é um bom começo, ele me sorri de volta e entra na cozinha, só reaparecendo quando a música termina. Pude notar que não era mais um daqueles caras que querem lhe mostrar que são inteligentes e chegam lhe falando do nada de Truffaut e Sartre. Não tínhamos muito em comum e adorei saber disso; esses encontros sempre geram muita troca de conhecimento, eu provavelmente aprenderia muitas coisas novas. Pede-me que o espere do lado de fora do bar quando este estivesse fechando. Concordei balançando a cabeça e fui para o meio do bar no intuito de apreciar melhor a música, já que eu estava com companhia garantida. Só espero que ele não tenha me confundido com uma mulher. Não que eu pareça ou aja como uma, mas ainda assim há quem se confunda.

Adoro essas minhas saídas noturnas, são ótimas para relaxar dos problemas diurnos. Principalmente quando elas rendem desta maneira.

Nossa, esses bêbados não têm casa não, é? Quando será que vão fechar este bendito bar? Já faz uma hora que a banda parou de tocar, por que eles não se tocam? O barman chega perto de mim se desculpando e avisando que estarão fechando o bar em menos de meia hora. Não sei por quê me sujeitei a isso, nem estou precisando. Mesmo sendo uma gracinha, não sei se ele vale todo o meu esforço. Mas se eu esperei até não vai ser meia horinha que irá me desanimar. Será que se eu pedisse mais uma bebida atrasaria ainda mais o pessoal do bar? Hum, vou pedir um cigarro a um desses bêbados sem semancol. Oba oba, fecharam uma porta, não é possível que não se manquem depois dessa.

Malditos, subam as cadeiras, limpem o chão! Não é possível que fiquem depois disso. Se ele quer roer que o faça no meio da rua. Se não tem casa que durma embaixo de um toldo!

Finalmente, acho que ele foi esperar o sol nascer em algum botequim perto de casa. Fecharam o bar e pude notar melhor o rosto do meu barman embaixo de uma luz não-monocromática. Vi pela primeira vez seus lábios reluzentes e aparentemente macios... Apossou-se de mim uma vontade incontrolável de beijá-lo. Empurro-o de uma maneira bem sexy contra o poste, mas ele morre eletrocutado.

Thais Gualberto
Enviado por Thais Gualberto em 07/07/2009
Reeditado em 12/07/2009
Código do texto: T1686323
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