A tocaia

Zezinho era um pacato funcionário público próximo de alcançar a tão almejada aposentadoria.

Morava com a mulher em uma casa simples a aconchegante, e seu salário certo que caía na conta todo quinto dia útil de cada mês, permitia-lhe certas regalias.

Na época, não haviam cercas elétricas e nem alarmes, mas os ladrões invadiam as casas na maior cara de pau, roubando qualquer coisa que pudesse se transformar em dinheiro ou drogas.

Um dia, Zezinho deu falta de um engradado vazio de cervejas, e foi até seu quartinho de despejo para ver se faltava mais alguma coisa entre seus guardados. Para sua decepção, o ladrão havia levado dois molinetes e uma caixa contendo vários apetrechos para pescaria.

O sangue de Zezinho subiu à cabeça, correu no quarto e tirou de cima do guarda-roupa uma carabina cal. 44 "papo amarelo", que guardava sempre bem lubrificada; pegou uma caixa de munição e carregou a arma com a capacidade máxima de balas.

Decidiu que daria um pipoco no intruso, mas não queria matar, desejava apenas dar um tirombaço de .44 bem no traseiro do infeliz, para que o mesmo nunca mais invadisse sua casa e nem roubasse nenhum de seus pertences.

À noite, Zezinho pegou seu melhor molinete com sua melhor vara e deixou em uma mesinha que ficava bem na lavanderia, próximo ao quartinho.

Correu para trás do tanquinho, com a carabina carregada e pôs-se a esperar o meliante.

Vinte e uma horas e o tempo ia passando...Zezinho empunhava a arma decidido e olhava no relógio que já marcava meia-noite...o sono batia e Zezinho bebia um gole de café, esperando o ladrão para dar o bote...duas e meia da madrugada indicadas no ponteiro e então Zezinho desistiu da espera. Pegou a arma, guardou na capa e jogou em cima do guarda-roupa, e resolveu tirar um merecido descanso, já que a espera havia sido longa. Mas disse a si mesmo que no dia seguinte seguiria a mesma estratégia.

Ao amanhecer, Zezinho lembrou que havia esquecido a vara e o molinete que havia usado como chamariz na lavanderia; e então, para sua surpresa, notou que o ladrão safado havia novamente invadido seu lar e surrupiado o valioso material de pesca.

Zezinho desistiu da tocaia e disse que quando o vagabundo quer roubar, não tem jeito, ele observa você e só ataca na hora que se sente seguro, e que enquanto achava que surpreenderia o gatuno, fora surpreendido. E assim, meu amigo resolveu desistir da idéia de autodefesa, preferindo comprar mais cadeados para suas portas e portões.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 23/07/2009
Reeditado em 23/07/2009
Código do texto: T1715327
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