O Primeiro dia de Dna. Norvinda na Academia de Hidroginástica
Ah, as palavras! Algumas, com o tempo, passam a ser usadas com outros significados. Se a gente não se “liga”...
Há mais de vinte anos, Dna. Norvinda mora com sua empregada Célia em frente a uma Academia onde se praticam diversas modalidades de exercícios físicos. Todos os dias, bem cedinho, a velha senhora senta-se no terraço para ler o jornal e dali observa as pessoas de todas as idades que entram e saem da Academia.
No Dia das Mães, Dna. Norvinda e Célia foram almoçar na casa do seu neto, o Gustavo.
“Célia, hoje é dia de saber as novidades da família!”
Gustavo é inteligente, carinhoso e muito brincalhão: o neto preferido de Dna. Norvinda. Assim que viu a avó e Célia chegando, abraçou a sogra e, juntos, foram recebê-las no portão. Após efusivos abraços, beijos e paparicos, Gustavo, que está sempre de bom humor, diz, exibindo a sogra: “Olha como minha sogra é sarada. Ela faz hidroginástica três vezes por semana!”
Pediram licença e saíram rindo dançando.
“Você ouviu, Célia? A sogra do Gustavo faz hidroginástica e a mãe dela deve fazer também... Pelo jeito é muito bom!”
Aquela noite, Dona Norvinda custou a dormir, lembrando a alegria do neto e da sogra sarada...
Segunda-feira, acordou ainda mais cedo e, do seu terraço, ficou observando a Academia do outro lado da rua. Assim que abriu, a senhora apanhou o telefone, ligou pra lá e disse enfaticamente: “Eu quero fazer hidroginástica três vezes por semana. Posso começar hoje à tarde?”
A secretária, após perguntas e informações de praxe, disse que a aula da tarde seria às 15h30min e sugeriu que a senhora viesse meia hora antes para se entrevistar com a professora.
Muito animada, Dna. Norvinda mandou Célia ao shopping para comprar maiô, touca e sapatilha: tudo em tons de azul. Arrumou o material numa bolsa plástica transparente à tiracolo e, sem saber direito a razão, pegou também os óculos de natação de Gustavinho e, por precaução, tampões de ouvidos: “que andam me doendo um pouco...”
No almoço, mal comeu, consultando o relógio minuto a minuto. Às 14 horas, sem poder mais dominar a ansiedade, pediu que Célia a ajudasse a vestir-se. O maiô não entrava...
-- Se avexe não, Donorvinda! Usando, laceia. -- Disse Célia, com sua costumeira paciência.
Dna. Norvinda quis colocar o traje completo e ficou se admirando no espelho, como quem posa para uma foto. Então, pediu para tirar as sapatilhas e a touca. Vestiu-se mantendo o maiô por baixo. Sentou-se e Célia lhe calçou os tênis. Decidida, a velha senhora ajeitou os cabelos, os óculos, apoiou-se no andador e sozinha atravessou a rua a passos trôpegos.
A professora a recebeu solícita e, disfarçando a admiração, pensou: “o que leva uma senhora dessa idade e condições físicas tão frágeis a buscar uma Academia e não um Geriatra ou Fisioterapeuta?”
Dna. Norvinda, como se lesse pensamentos, foi logo dizendo:
“Minha filha, na semana passada eu completei 88 anos. Há cinco, o médico colocou dois pinos de platina no meu quadril: um em cada lado. Tenho também uma prótese no joelho esquerdo, uma hérnia de disco inoperável e outras coisinhas mais. Mesmo assim eu vim, porque eu quero ficar igual à sogra do meu neto: sarada!”
Faça exercícios antes que o seu médico recomende. Prevenir é um ato de sabedoria.