O CHEIRO DO MANGUE!

No final de 1970 fiz meu alistamento para o Serviço Militar e, ao me apresentar ainda no mesmo ano, fui dispensado por "excesso de Contigente" (na verdade era vesgo do ôlho esquerdo e menor que Salário Mínimo). Naquele tempo quem era estudante e sabia datilografia, não escapava do serviço militar. Eu não sei se dei sorte ou azar, só sei que via amigos meus no ano seguinte, passando pelo bairro onde morava e ainda moro, com uma carga danada nas costas e marchando mais de 15 Km...

Encontrei um emprego melhor, saí da mercearia que trabalhava na Glória, fui ser Auxiliar de Escritório (que moral naquele tempo...)numa Indústria de roupas infantís em Bento Ferreira-Vitória. Tomava um ônibus às 6 da manhã, saltava na Vila Rubim (já na capital), embarcava em outro ônibus (Praia do Suá/Via Beira-Mar) para chegar ao trabalho. Era todo dia, de segunda à sábado.

Embarcando na Glória e viajando uns 5 quilômetros aproximadamente) pela Rod. Carlos Lindemberg, o coletivo passava por uma área de mangue, aterrada em parte para a existência da pista. Era manguezal dos dois lados, numa extensão de mais ou menos 2 Km. O cheiro de mangue é uma mistura de maresia com cocô do mesmo dia, é terrível...

Na maioria das vezes, ia no mesmo ônibus um colega de serviço que já contribuia para o efeito estufa, ou seja, era um "soltador de gases" inveterado. Aproveitava ele, a passagem do coletivo pela área do manguezal, pra soltar seus "finos ventos", tão catingosos que até urubu sentia náuseas. Eu esquecia e acabava sentindo aquele cheiro terrível, quando ele dizia: "-Nossa,como fede êsse mangue, hem???".

Certa feita, ao soltar seu "pum" e fazer a famosa exclamação, um passageiro em pé ao lado da nossa poltrona, retrucou em alto e bom tom:

- Esse mangue fede que é uma desgraça,misturado com ovo cozido, então!!!

PS: Publicado na Usinadeletras.com.br em 2007.

Goltara- 11/08/2008

Pedrinho Goltara
Enviado por Pedrinho Goltara em 11/08/2009
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