Cafeína

Só o café duplo olhava para mim, e eu o mexia devagar com a colher, esperando esfriar. Não posso negar que era irresistível ficar olhando fixamente para o vapor que saía do copo e ia se descanescendo no ar.

Eis então que percebi algo bastante curioso: eu me projetava naquele copo de café quente, parado, só e com ideias que vagarosamente se desfaziam no ar. Consegui ver claramente que eu era um excesso de cafeína ambulante, mas, em geral, era tomada quente.

Parei. Não posso ser ‘’só um copo de café’’. Resolvi prestar atenção no que eu pensava. Era coisa demais. Para cada batimento cardíaco, uma ideia diferente. É verdade que algumas se repetiam, mas a mudança de cenário era veloz demais para que eu pudesse acompanhar conscientemente.

Sabe o que seria ótimo agora? Um irish coffee. È. Mistura perfeita. Euforia e devaneio em uma só dose. No entanto, estava aqui tomando meu último gole do café duplo.

“Você bebe café demais!” Bebo mesmo. Bebo porque gosto, bebo porque não dá para alimentar todos os meus vícios de uma vez e bebo porque adoro ver a fumaça do café quente se desfazendo no ar.

Pensei em começar a escrever a história de amor jamais antes contada, mas notei, que se fizesse isso, perderia completamente o encanto do impossível. Melhor eu só terminar meu café e guardar a “grande história de amor “ na minha cabeça. Talvez ela se desfaça em espirais efêmeros e mornos. Ou talvez circule na minha corrente sanguínea como cafeína.

Ursel Schwartzinger
Enviado por Ursel Schwartzinger em 26/08/2009
Reeditado em 26/08/2009
Código do texto: T1775833
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