Estranho Magnífico Ser

Sujeito estranho, o Senhor Luis. Não media mais que um metro e meio, e suas costas curvadas, mais que um defeito físico, talvez representassem algum peso demasiado, que tivera de levar em sua vida. À espreita pelos corredores do velho hotel, que em decadência não aparentava os anos de outrora, com movimento e recursos abundantes, o homem podia causar certo medo por suas atitudes silenciosas;

Estes eram alguns dos seus aspectos que trouxeram-me a atenção a este singular sujeito, de voz empolada, e quase inaudível. Sua função de faz tudo jogava-o aos quatro cantos da contrução de três andares ruída pelo tempo e pela falta de conservação com extrema agilidade. Ninguém, talvez nem mesmo a a proprietária conhecesse tão bem o hotel quanto o Senhor Luis.

Naqueles dois meses em que fui hóspede, anotava seus passos, acompanhando sua singularidade, e seus trejeitos circenses. Sim parecia o pobre homem, algum tipo de atração de circo perdida naquele pequeno balneário, onde um osso de baleia, já sem vida era principal atração.

Entre seus principais costumes, estava o de espionar aos poucos hóspedes que se aventuram por ali. Seus olhos penetravam em fechaduras, e seus ouvidos ficavam mais ligados que os radares do aeroporto. Talvez sem nunca ter tido um encontro com mulheres despidas, sua predileção por casais amantes se explicava. Ele aguardava copiosamente atrás da porta, espiando as siluetas de corpos nus, ouvindo sussurros, e conforme fosse até mesmo berros, e violentos sons do entrechoque de corpos mais afoitos e tesudos.

Discreto, não se deixava ser visto. Entrava no quarto só após estar vazio. Sem seus habitantes temporários. Então despia-se de garçom, para assumir as funções de camareiro, que lhe trazia estranhos prazeres, como sentir o perfume de sexo exalado por quem acabara de desocupar o ambiente. Rolava-se entre os lençois, acariciava-os, como se estes gestos fossem o mais próximo que chegar de uma experiência sexual.

Todas estas estranhezas vinham-me a memória naquele momento mais difícil. Expurgado como cão sem dono, sem dinheiro sequer para tomar um ônibus e voltar para onde viera passar um verão. Nunca poderia imaginar, que aquele estranho ser, o qual por muitas vezes teorizei maldizeres impublicaveis, seria o única a estender-me a mão... Na janela o ônibus, graças aos poucos trocados a mim dados pelo Senhor Luiz, que sequer recebia salários por seus serviços de faz tudo, uma lágrima de gratidão escorria pela face, assim como todas as outras concepções que possuía sobre aquele estranho magnífico ser.

Douglas Eralldo
Enviado por Douglas Eralldo em 04/09/2009
Código do texto: T1791950
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