Uma manhã "deliciosa"



Numa manhã, levantei da cama com uma dor insuportável na coluna, com certeza devida a uma hérnia de disco que está me tirando a paz e a paciência há alguns meses, não tive dúvidas, telefonei para a minha médica e combinamos de nos encontrar no consultório dela.
Para melhorar a situação, estava chovendo, ou seja, nenhuma desgraça vem sozinha.
Tomei um banho rápido ou não tão rápido assim pois cada movimento era uma aventura, até meus pensamentos doíam.
Abri a gaveta e coloquei a primeira roupa que vi, sem me preocupar com mais nada a não ser ir logo para o consultório e ao menos tentar amenizar aquela dor.
Ir com meu carro era impossível, chamei um táxi e a minha filha mais nova me acompanhou.
Chegando lá, tive que esperar, não sei por que os médicos (as), sem querer generalizar, gostam de atrasar, mesmo tendo marcado comigo e sabendo da urgência do caso, e põe urgência nisso, eu estava quase me estatelando no chão.
Não conseguia me sentar, ficar parada em pé era missão quase impossível, andar era um verdadeiro suplício, mas a melhor opção, fiquei andando de um lado ao outro, numa determinada hora, tomada pelo tédio e pela dor resolvi andar na calçada, estava chuviscando, mas nada me importava, é como dizem por ai, o que é um pum para quem já está ... .
Encostei-me em uma árvore, tola esperança de anemizar a dor, e foi ai que quase tive um chilique, se aproximou de mim um rapaz, carregava uma cesta de doces, perguntou-me se queria comprar um, eu não tinha condições de querer nada, olhei para a minha filha que fez sinal de não querer também, educadamente e toda torta, quase corcunda, agradeci e disse que no momento não queria doce algum, nisso ele olhou dos lados e viu minha filha de 12 anos encostada na porta do consultório, óbvio que ele percebeu o parentesco, aliás, nem tem como não notar rs voltou o olhar para mim e disse:
- Mas se a senhora não quer, compre um docinho para a sua neta!
- Neta ???????? Disse eu, quase rosnando.
A sorte do rapaz é que eu estava impossibilitada de cometer um ato de violência.
Ele percebendo a gafe, deu um sorrisinho amarelo e foi embora, carregando a famigerada cesta de docinhos.
Mesmo com dor, olhei para a minha filha e olhando para mim mesma, comecei a rir.
Moletom largo, tênis desamarrado, descabelada, curvada para frente, apoiada no guarda chuva, daqueles enormes, que mais parecia uma bengala, falando com dificuldade, pois até respirar causava dor, molhada e com cara de quem não dormia há dias, realmente parecia uma vovozinha.
Moral da história, nem que esteja morrendo, tendo um síncope, ataque cardíaco, esteja com dor da raiz do cabelo até a unha do dedão do pé, jurei a minha mesma nunca mais sair de casa sem a devida produção, salto alto e maquiagem.




Foi uma bela manhã
Embora pareça duro
Você deve ficar fã
Desse garoto imaturo
Que, mesmo sem intenção,
Deu uma boa lição
Que vai usar no futuro.
 
-Heliodoro Morais-

Grata pelo carinho.



Loira Paulista
Enviado por Loira Paulista em 17/09/2009
Reeditado em 30/04/2013
Código do texto: T1815851
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