Eu já fui! E você?

Sábado exuberante!

Logo pela manhã, devidamente acompanhado por minha esposa, saí de casa com um excelente humor para visitarmos alguns parentes na cidade de Santo André, coisa que fazemos costumeiramente!

Em nosso alegre bate-papo durante o trajeto falamos sobre coisas diversas ...

Nosso dia a dia durante a semana que estava se findando, os bons procedimentos de nossas filhas, a violência que assola a população em geral, nossa saúde financeira ...

Nesta última abordagem, até brinquei dizendo:

--- Hoje, com este belo dia, vou passar no caixa eletrônico Bradesco

que fica lá na frente do Parque Duque de Caxias e “sacar uma

nota” para desfrutarmos bem! Vamos ficar “abonados” com os R$

30 que vou retirar ...

Unindo à fala a ação, logo a seguir, subi com “duas rodas” sobre a calçada a Av. D. Pedro II em frente ao Parque Duque de Caxias e disse a minha esposa:

--- Volto rapidinho! Não tem ninguém ... “saco” depressinha e já

volto. Acho que não dará tempo para ser multado ...

Subi “de dois em dois” os degraus que separam o caixa eletrônico do nível da avenida, abri a porta do caixa eletrônico e adentrei a mesma.

Rapidamente efetuei o saque pretendido, guardei os R$ 30 e o cartão bancário no bolso do agasalho que vestia e me dirigi para a porta da cabine.

Junto à mesma encontrava-se uma pessoa e não dando muito

relevância ao fato, a abri e saí ...

Ouvi uma espécie de sussurro que provinha do lado em que se encontrava a pessoa que eu notara quando me dirigia para sair.

Virei o rosto em sua direção e literalmente “gelei”!

A “pessoa”, um “sujeito” de uma grande compleição física, “encapotado”, apontava uma arma prateada em minha direção e repetiu num sussurro, que desta feita ouvi muito bem:

--- Pode voltar!

Não me “fiz de rogado” ... dei meia-volta e adentrei a cabine novamente, tendo atrás de mim o grandalhão sujeito!

Assim que chegamos junto ao caixa eletrônico, o “sujeito rosnou”:

--- Não olhe para mim, ..., não olhe para a arma! Coloque o cartão e

depois digite a senha!

Procurei manter a calma, ergui as duas mãos como que solicitando calma ao meu “agressor” e com bastante cautela coloquei minha mão direita no bolso do agasalho e de lá retirei o meu cartão. Vagarosamente, procurando demonstrar uma “pretensa calma” que eu estava longe de portar, falei enquanto introduzia meu cartão no local receptor do caixa eletrônica:

--- Pô, garoto! Me deixa pelo menos com os R$30 que já saquei!

Preciso colocar algum combustível no carro ...

Ao que o “agressor” respondeu:

--- Rápido! Não olhe para mim ... não olhe para a arma! Deixe que eu

digito o valor ...

Afastei-me para o lado e enquanto digitava os dígitos no teclado, o sujeito indagou:

--- Quem é a mulher que está lá no carro?

Senti meu corpo gelar! Pensei:

... Se eu disser que é minha esposa, é capaz deste sujeito querer

fugir com o carro e levar “à tiracolo” a Lena. Meu Deus, o que

faço?

Sussurrei algo como:

--- É, é ... minha esposa ... ela está me aguardando ...

Sem “levar muito em consideração” o que eu disse, o sujeito afastou-se novamente e ordenou:

--- Digite a senha!

Assim procedi, o elemento teclou o ENTER e no visor da máquina surgiu uma informando que o valor digitado (R$ 5.700,00) excedia o valor permitido para saque.

Desta feita, com um controle do meu sistema nervoso, olhei para o elemento e consegui retrucar:

--- Você digitou um valor muito acima do limite diário de saque

permitido pelo banco!

O elemento, agora já um pouco mais impaciente, novamente “rosnou”:

--- Não olhe para mim ... não olhe para a arma! Coloque o cartão

novamente!

Obedeci prontamente, porém, devido ao tom “menos paciente” do fulano, houve um “ligeiro tremor” em minhas mãos e eu não consegui introduzir o mesmo no receptor de cartão da máquina!

Busquei o “pouco de coragem” que me restava e ousei retrucar:

--- Você está me deixando nervoso! Não estou conseguindo colocar o

cartão ...

Levei uma “espécie de tranco” do “encorpado rapaz” que me colocou novamente de lado. O elemento “sacou” o cartão de minha mão e rapidamente o introduziu no local adequado. Repetiu os procedimentos para o devido saque, afastou-se e novamente “ordenou”!

--- Digite a senha!

Desta feita houve sucesso na operação e o dispensador de notas liberou R$ 570,00 que foi o valor agora digitado!

O “solícito sacador” lançou mão do valor e guardou no bolso de seu capote!

Com a arma apontada em minha direção, rosnou novamente:

--- Não olhe para mim ... não olhe para a arma! Me dê os R$ 30 que

sacou ...

Obviamente não retruquei ... coloquei a mão no bolso de meu agasalho e entreguei o valor anteriormente sacado para “meu algoz” ...

O “gatuno” colocou a quantia retirada de minha mão em seu bolso no mesmo bolso do capote no qual havia “depositado” o valor anterior e novamente “ordenou”:

--- Vá para a saída lentamente na minha frente sem olhar para trás ...

Clamei, em meu pensamento, o mais fervorosamente que pude por meu anjo da guarda protetor e por Deus!

Creio que com o rosto expressando angústia e desespero, com o elemento caminhando atrás de mim, pensei:

... Meu Deus! Será que este elemento vai atirar na minha nuca? Meu

Deus, meu Deus ... se eu for merecedor, me proteja!

Chegamos à porta da cabine e o “marginal” insistia:

--- Não olhe para trás ... não olhe para a arma!

Traumatizado, porém consegui, “de soslaio”, notar a figura de minha esposa que permanecia sentada no banco do carona ao lado do banco do motorista em nosso carro, “com a metade” sobre a calçada ...

Aí ouvi a voz do “larápio”, que se dirigia a minha esposa, em nível abaixo ao nosso, lá na avenida:

--- Que é que está olhando? Fica na sua senão mando bala ...

Graças a Deus, a previdência divina fez com que minha esposa permanecesse calada, sem qualquer retruque à provocação do elemento.

O “gatuno” passou por mim “de supetão” e desceu os degraus da escada com passos apressados. Ao atingir a calçada, felizmente, seguiu em direção contrária àquela onde se encontrava estacionado meu carro com minha esposa em seu interior.

Neste momento, iniciei cautelosamente a minha descida e ao atingir a calçada, segui em direção contrária ao do “meliante” dirigindo-me para o carro. Com as mãos trêmulas quase não consegui abrir a porta e ao conseguir fazê-lo e sentar no banco do motorista, olhei pelo retrovisor e ainda pude ver o indivíduo se dirigindo apressadamente pela calçada!

Falei rapidamente para minha esposa enquanto colocava a chave no contato e dava partida no motor do carro:

--- Acabei de ser assaltado! Vou entrar na primeira à direita e tentar

sair naquela travessa anterior ... se o “cara” estiver nem que for

na calçada, subo com o carro e o atropelo ...

Arranquei com o carro e dobrei a primeira rua à direita enquanto minha esposa falava:

--- Eu notei algo estranho quando vi você sair e retornar em seguida

acompanhado daquele “sujeito” ... mas, ..., o que eu podia fazer?

Que coisa! Neste tempo todo, não parou ninguém para ir até o

caixa eletrônico!

Eu nem respondi ao que minha esposa falava, na ânsia de tentar encontrar o elemento que havia me assaltado. Fiz uma espécie de U e retornei à avenida D. Pedro II exatamente na quadra anterior onde se situa o caixa eletrônico, mas foi em vão. Nem sinal do “gatuno”!

Havia várias possibilidades para o seu sumiço! Ele poderia ter um assecla que o estava aguardando, por exemplo, com uma moto e rapidamente ter se evadido após “seu trabalho”. Poderia, pura e simplesmente, ter atravessado a avenida e adentrado ao Parque Duque de Caxias. Ou até ter entrado em alguma das inúmeras residências que existem nas cercanias ...

Completamente atônitos, eu e minha esposa não conjuminávamos o que havíamos passado.

No entanto, como infelizmente está se tornando a tônica em nossas vidas nos últimos tempos, nos demos as mãos, tentamos sorrir e ela, com toda a candura que lhe peculiar, agradeceu:

--- O garoto levou nosso limite do cheque especial! Causou-nos este

trauma ... no entanto nos deixou bem e vivos! Graças a Deus

passamos ilesos por esta provação!

Respirei profundamente, beijei a testa de minha querida companheira e disse em tom jocoso!

--- Infelizmente, não vamos poder comer nosso pastel de feira e

teremos de perder uma parte deste maravilhoso sábado, sentado

no banco de uma delegacia para fazer um boletim de ocorrência!

Quem sabe, com este nosso alerta haja uma melhora na vigilância

deste local e novos “eventos” como este que nos foi reservado

sejam evitados!

Naquela esquina, sem um único centavo nos bolsos, de mãos dadas, conseguimos repetir as belas frases das orações: ao nosso Anjo da Guarda, o Pai Nosso e a Ave Maria!

HICS
Enviado por HICS em 01/10/2009
Código do texto: T1842722
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.