Virando gente grande.

Não sabia ao certo porque aquela aglomeração em torno de mim. Meus pais me vestindo com uma roupa estranha. Estava um calor daqueles. Eu não queria aquela roupa. Me apertava, me incomodava. Como uma boa criança abri o berreiro com toda a força. Foi o jeito que aprendi de mostrar a eles quem mandava em casa: EU ! E sempre dava certo.

De repente parei de berrar. Olhei para o meu pai e reparei que ele falava com um sorriso enorme:

Filho, é a camisa do Vasco

Vasco? Meditei. Aquela palavra não era estranha. Vasco não é aquele bando de gente grande com roupas parecidas? Meu pai é gente grande. Meu pai é Vasco. Opa! Parem tudo... Eu quero ser gente grande. Afinal, já devia ter quase 4 anos. Não era sem tempo.

Olhei para a camisa branca com a diagonal em preto que minha mãe até aquele momento insistia em colocar, que mal tinha passado do pescoço. Com autoridade e independência, balancei os braços e sozinho terminei de colocar a camisa. Pronto. Estava sendo promovido a gente grande. Grande igual ao meu pai. Era Vasco.

Para mostrar que estava convicto repeti para todos ouvirem:

Camisa do Vasco.

Foi uma gargalhada só. Meu irmão mais velho, botafoguense, olhou para mim e percebeu que não era o irmão mais novo que estava na frente dele. Estava o mais novo vascaíno gente grande. Tenho certeza que ele tremeu. Meus pais se orgulharam.

Não é que a camisa tinha ficado bem em mim. Gostei.

Foi quando o meu pai falou:

Vamos dar uma voltinha por aí.

Era o máximo. A minha estréia no bairro como gente grande. Usando aquela camisa do Vasco. Fui logo apanhando a mão do meu pai. Não podíamos perder tempo.

Naquele dia devíamos ter andado no máximo uns três quarteirões. Para mim foram quilômetros. Aquela camisa do Vasco era mágica. Quando algum adulto passava, eu estufava o peito meio desajeitado e mostrava orgulhosamente a camisa do Vasco. Alguns até brincavam falando coisas como: troca de time, que camisa feia! Outros falavam: garoto inteligente, isso sim é que é camisa! Nada do que era dito importava. O que importava mesmo era que eu era gente grande. Grande e vascaíno.

O que mais me marcou naquele dia foi a descoberta que fiz: ser Vasco é ser grande.

Marcelo Macedo
Enviado por Marcelo Macedo em 04/07/2006
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