Depois de Amanhã
Ela olhava para trás, por cima do ombro esquerdo, antecipando uma saudade desnecessária. Solitária trocava passos consigo mesma, murmurando melodias de amor. Primavera. Manha de sol. A jornada era longa e ela não sabia para onde ir. Dúvidas, incertezas, e um amor mal correspondido angustiavam seu frágil coração. Aprendera da maneira mais cruel que a vida é sempre uma mentira ingênua.
Carregava consigo além da mochila e alguns fetiches, seu inseparável diário e o pingente de um anjo, que, acreditava ela, lhe protegia de todo mal.
O vento soprava seus cabelos, e o suor escorria por seu rosto misturando–se com as lagrimas que rolavam soltas. Não entenda o motivo do choro, afinal, escolhera ir por este caminho.
Inconformada com sua vidinha rotineira partiu, na tentativa frustrada de fugir de si mesma.
A cada novo passo começava a entender que viver dói.
Passou conviver com uma angustia inexplicável. Manter distância de sua antiga vida seria apenas mais um meio torto de tentar resolver certos problemas sem solução. E não é poder fugir de si mesma era mais um deles.
Mesquinha, começava a cria suposições irreais, e viver passou a ser a mais concreta delas. Então, se doando à sua própria vida, continuava a fugir de si. Suspirou fundo e prosseguiu, ainda atinha um longo caminho pela frente.
Caminhou durante todo o dia trocando passos consigo mesma até chegar numa praça. Cansada recostou sua cabeça em uma pedra e arriscou uma noite de sono. Estava exausta, mas não conseguia dormir. Continuava perdida em pensamentos insanos, mergulhada no caos da sua miséria pessoal interior. Aos poucos começava a sentir pena de si mesma, e este é o cumulo da solidão. Solidão meus caros.Solidão.
Contava na ponta dos dedos os dias que se passavam e planejava, no diário, os que ainda viriam. Nunca acertava.
O amanhã é incerto.
Contava sempre com a ajuda dos iguais, daqueles que captavam no olhar da menina uma desilusão tão real que, se observada mais atentamente, tornar-se-ia palpável. Sentiam em si mesma a dor aguda da menina. É certo que vez por outra não conseguia mais que uma cara de nojo, acompanhada de um gélido ar de desprezo.
A menina agora estava mendigando.
Os dias passavam depressa. Aprendera rápido a convencer as senhoras de bom coração e nunca mais passou fome. Manipular pessoas sempre fora seu melhor talento desde quando era criança.
Por seis messes residiu naquela praça, até chegar à conclusão lógica de que, o fim de tudo é sempre um começo. Arrependeu-se de tudo o que não precisava se arrepender, engoliu o choro e guardou na velha mochila os mesmos pertences de outrora, agarrou-se ao anjo do pingente e, após uma breve oração, voltou para casa.
Mais uma vez se viu caminhando pela estrada da vida.
É bem verdade que nesta historia não ha um fundo moral, mas na vida nem tudo tem. As coisas mais importantes são sempre as mais insignificantes.
Hudson Eygo