O desejo de vingança

A língua corria solta. Serpenteando no céu da boca, feito peçonha destilando o seu veneno. As palavras iam e vinham num bailado infame; com a agilidade do pensamento. Na hora sem pestanejar!

Direitos foram profanados. Sem advogados de defesa, somente promotores de acusação soltando o verbo.

Um ou dois avisos:

“Muda o rumo desta prosa, isso não vai acabar bem!”

No entanto as matracas não conseguiam conterem as blasfêmias.

Perguntas sem réplicas. As respostas não aceitas pelos desejos de desforra: indecente, inconsciente, imprudente. Uma fazendo da outra o cabo de chicote, a fim de vergastarem as costas de quem estava alheia a maledicência delas, numa incomum vingança.

Cada uma com um objetivo diferente da outra, todavia singularmente com os mesmos objetos: abstrato e material. Ciúme, e pessoa.

Olha que o material não é lá essas coisas, ah, mas a mente, esta sim, confabula as idéias!

Maquinando cenas indevidas na cabeça de quem não tem personalidade. Há meu ver: isso teria que ser proibido, e somente que tem capacidade de suportar o tranco, teria que ser posto a essas provas.

II

Os dias seguiram comedidos, todavia as línguas não! Lucrecia a cada dia encontrava em Carmelita, mais ciúmes, mais desconfianças, mais insegurança! E sequiosa de vingança, inflava os medos e as invejas na pobre e desmiolada Carmelita, em desfavor não de Rubão seu marido, e sim na desavisada, Rosa, que alheia aos acontecimentos continuava sua vida.

Os ingredientes para uma boa briga estavam à mesa. Para uma explosão de desavenças, faltava somente ascender o estopim. E foi Lucrecia quem riscou o fogo no pavio:

Lucrecia falou a Carmelita que Rubão tinha um lesco-lesco com Rosa.

Carmelita brigou com Rubão que nada sabia.

Rosa no dia seguinte a briga, ouvi de Carmelita: desaforos de uma mulher enciumada.

Lucrecia à surdina ansiava por saber noticias das suas infelizes tramas.

III

Voltemos a um recente passado, onde fatos e acontecimentos têm que serem esclarecido:

Lucrecia, mulher casada, bonita, no entanto, vingativa.

Rosa, moça solteira, não muito bonita, porém cativante.

Carmelita, mulher casada com Rubão, famoso ator.

Por fim Rubão, cara boa praça, bom papo, um artista acima de tudo.

Eles faziam parte de uma Cia de teatro, com uma peça que vinha dando muitos rendimentos e bastante repertorio. Todos cumpriam suas funções dentro do enredo da peça. Rubão protagonista com o papel de palestrante, com idéias futuristas. Lucrecia figurante, Rosa, jovem sindicalista estudantil, e Carmelita contraversora implacável as intenções do personagem de Rubão.

Eles dinâmicos atores, mais as mente doentias e ciumentas de duas pessoas, tiraram da ficção e levaram para a realidade. As suas diferenças, Lucrecia por ter contra Rosa uma rixa antiga, coisas de mulheres. Encontrou em Carmelita o cabo de chicote ideal para sua vingança. Armou contra Rosa usando-se de astucia.

Inflando pensamentos de insegurança na cabeça fraca de Carmelita, levantando o falso, contra Rosa e respingando em Rubão. Deixando Carmelita louca e possessa de ciúmes. Desmoronando as bases de confiança entre os três amigos. Pois ate então Carmelita, Rosa e Rubão tinham uma amizade incondicional.

O pandemônio foi armado, e saiu nas colonas sócias de quase todos os jornais sensacionalistas da cidade: Traição no Teatro. Atores tiraram da ficção e vive a realidade, tórrido romance.

O rebu estava formado, Carmelita briga com o marido indispõe com Rosa e rompe com Lucrecia. Que por sua vez se delicia com a difamação de Rosa seu maior objetivo de vingança.

A discórdia tomou conta de todos, no elenco, do diretor artístico ao roupeiro, mais o que Lucrecia tanto almejava não aconteceu. O dito barraco. Com esses acontecimentos o publico cresceu de forma assustadora, pois a platéia que lotava o anfiteatro. Ficavam atentos aos atos e num intervalo e outros cochichavam entre eles:

“Será que eles vão brigar com Lucrecia!”

“E carmelita foi afastada da peça?”

“Não dizem que ela esta internada, numa clinica de repouso.”

Os burburinhos faziam um barulho, tal qual um vespeiro, ouriçados por fumaças.

Passado o alvoroço. Nada sucedeu além destes fatos por mim narrados, a direção da Cia de espetáculos já montava outra peça com estes subterfúgios.

O desejo de vingança Onde o cabo do chicote é arma mortal nas mãos imprudentes. Estrelando: Rubão Fonseca, Rosa Flores, Lucrecia Malvina e Nalvinha Novais substituindo a Carmelita Dor.

valdison compositor
Enviado por valdison compositor em 13/02/2010
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