CHARLIE - PARTE II

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"CHARLIE NO BAR DA DECA"

Pois bem, após a despedida do sessentão amigo Martin e eu ainda não dávamos a noite como perdida. Por esse motivo nos empenhamos em procurar um outro lugar que vendesse cerveja ou qualquer outro barato. Mas foi a procura mais fácil do mundo afinal eu estava acompanhado do guia mais eficaz quando o assunto é "lugares pra se perder ou se fuder".

-Agora vamos ao bar da Deca! - afirmou Martin. - Lá é firmeza tem até karaoke

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Descemos a avenida em direção ao nosso destino com a calma de um boêmio cansado. Martin, Charlie e eu. De longe dava para notar que o local estava bem mais animado do que o bar do Paraíba.

- Tá vendo Marcelinho? no bar daquele cara chato tínhamos que conversar baixinho. Que porra foi aquela? Era um bar ou uma igreja aquele muquifo?

E novamente, tendo como protagonistas Charlie e Martin, a mesma cena repetiu-se. Um grupinho que já estava alto de cachaça na entrada do bar ordenou que o cachorro ficasse do lado de fora, e foram hostis conosco devido a recusa.

Apenas a dona do boteokê, uma senhora de aproximadamente quarenta e cinco anos com dois metros de bunda caida, mostrou-se gentil. Sempre que tinha oportunidade dava uma "pegadinha maliciosa" na minha cintura.

- O moço bonito você é daqui? Nunca te vi por esses lados! - perguntou pra mim.

- Não moça bonita! Estou morando em Bragança Paulista, mas virei aqui com frequência. -sai mudando de assunto.

-Martin! O Charlie não está com fome cara? Quando foi que você deu ração a ele?

-Puta merda! O cara ficou de levar a ração dele pela manhã, mas eu fui dar um rolê por aí e nem voltei pra casa ainda.

-Caralho! Você é maluco! Imagina se o Charlie estiver faminto e ao ver cinco dedos e uma mão só conseguir enxergar cinco salsichas e um pão de frios.

Martin apenas sorriu.

Calmamente foi até o balção e pediu a Dona Deca um "salgadinho Torcida". Abriu e jogou o conteúdo do pacote no chão, bem na entrada do bar, O cachorro comeu vorazmente toda aquela porcaria apimentada. E enquanto afagava sua cabeça pensei: "espero que o Datena esteja errado mesmo".

O pessoal sabia como se divertir naquele lugar e até que tinha um certo ar de cumplicidade entre eles. Havia um grupo de bolivas calados de um lado, um pessoalzinho jovem barulhento e uns tiozinhos também, porém interagiam uns com os outros na maior alegria.

Cerveja sem parar enquanto alguns cantavam no karaokê. Atentei-me ao fato de que as imagens que eram reproduzidas na tela eram bem peculiares e se adequavam ao cenário.

Nada daquelas fotografias de pôr do sol na praia ou alpes suiços, as imagens que apareciam no telão eram de crianças bolivianas com roupas coloridas, filhotes de cachorro e de gente comum com a cara de periferia se beijando.

Uma tiazinha lá pelas 03:00 da madruga cantou "Vento no Litoral" do Legião.

Puxa! essa música traz recordações pra mim. Curti aquela melodia e provei novamente o gosto amargo de saudosismo de bêbado.

Mas pra passar o clima fim de festa, logo após a tiazinha cantar Vento no Litoral Martin pede uma ficha e escolhe "Dias de Luta" do Ira.

Cantamos como loucos embriagados enquanto Charlie bebia água num pote de margarina que não cabia metade da sua bocarra.

Depois berramos feito dois desesperados "Até Quando Esperar" do Plebe Rude. Logo em seguida nos despedimos dos Bolivas, depois da mulecada e finalmente dos tioziznhos e fomos cada um pra sua casa.

...É foi uma noite agradável e Charlie é meu novo amigo.