Mara & Letícia, ou As Escolhas do Amor

Uma era Mara, a outra era Letícia; as duas, no entanto, eram amantes de Rafael, próspero nos negócios tanto quanto na libertinagem. Mara ainda possuía duas filhas, que gozavam de saúde e beleza, tal qual a mãe, que por fatalidade do destino, era viúva fazia sete anos. Letícia era casada com Leonel, velho político da região que não possuía herdeiros.

Apesar de tamanha familiaridade, as duas não se conheciam e ambas aspiravam um futuro com Rafael, que prometia vida nova no Rio de Janeiro. Mara dizia ao ouvido do amante que era capaz de largar as duas filhas, uma com 17 e a outra com 14 anos, para fugir com ele, mas se ele quisesse levaria as filhas também, tamanha era a sua paixão pelo rapaz. Letícia lhe garantia com fervor que deixaria o velho e toda sua vida cômoda para as agruras de um recomeço no Rio de Janeiro, mas desde que estivesse com Rafael, seu príncipe encantado. Vendo tamanha admiração, Rafael andava soberbo pelas ruas da triste São Paulo daqueles tempos idos, nos bares bebericava cerveja na mesa de todos e, não dificilmente, conseguia o telefone de uma ou duas garçonetes do local. Sua vida ia de vento em popa quando Mara lhe botou na parede:

- Escute, você sabe que eu o amo Rafael, mas não posso esperar! Minhas filhas já estão desconfiando... e acredite, mas já estão falando de mim pelas ruas! Precisamos fugir logo! Eu ainda tenho um pouco de dinheiro guardado, se quiser custeio a nossa ida! Vamos depressa meu querido – e caia de joelhos – Eu lhe imploro, tome uma decisão, senão é melhor que nem nos encontremos mais!

Para Mara ele respondeu que não tardaria a lhe visitar com as passagens na mão, esperava apenas por uma liberação de seu patrão e de um telefonema de um amigo seu no Rio de Janeiro, para Letícia a conversa teve de ser mais cuidadosa... a menina era mesmo esperta!

- Eu não sou boba! Aposto que tem mais alguma mulher no meio, você ai, vive cheio de mistérios, nunca diz onde mora, nunca dá seu telefone! A coisa é séria, ou vamos para o Rio na semana que vem, ou nunca mais! E esta feito, sem mais conversa! – e se retirou Letícia, deixando Rafael suando frio.

A procurou horas mais tarde e disse que estava próximo de encontrar uma solução para seus problemas com a lei, não podia sair do estado sem seus documentos validados e prolongou por mais algumas semanas a sua comodidade em São Paulo. Mas a situação exigia cautela, precisava decidir: ou contava a verdade para as duas e provavelmente era morto por elas, ou fugia sozinho para o Rio, ou quem sabe ainda, levava uma e apenas se fingia de morto para a outra. Por fim, decidiu que primeiro precisava escolher qual era a melhor e assim, decidir qual decisão tomar. Mas a escolha era impossível, as duas possuíam qualidades e defeitos que, só de lembrar já deixavam Rafael ereto! Teve então uma idéia arriscada: colocar as duas frente a frente e lhes contar a verdade, aquela que continuar a amar Rafael será digna de ir para o Rio de Janeiro e construir uma vida nova e próspera.

Marcou então um encontro num café pouco popular de São Paulo, onde não existia nenhum conhecido sequer. Avisou cada uma de que seria tomada a decisão da viagem naquele dia, mas que provavelmente a decisão não seria lá das melhores. Sentou na ultima mesa, mesmo que não tivesse nenhum cliente, aquele lugar era o mais reservado do local e,sujeito refinado que era, pediu um bom café para esperar as duas amantes.

Chegaram quase juntas, Mara primeiro, depois Letícia. Quando Mara chegou, Rafael não lhe beijou como de costume, foi um beijo seco, ríspido até; e com gosto de café. Letícia chegou minutos depois, e seu olhar foi de espanto ao ver o seu querido amante à mesa com outra mulher, justo naquele dia tão decisivo para ela. Mas sentou a mesa e logo ao cruzar seu olhar com Mara lhe subiu um calor pelo rosto, inexplicável até então e logo depois foram apresentadas com formalidade pelo rapaz. Ele explicou que durante todo aquele tempo, apenas enganara as duas, mas que nutria por ambas um amor igual e que não seria justo fugir com uma e deixar a outra só, na triste São Paulo, levando uma vida desgostosa. Elas se calaram atônitas naquele instante, mas não sentiram raiva nem desprezo no primeiro momento por ele; apenas se olhavam. A mistura de sensações aguçou provavelmente os sentidos de Mara que podia sentir o perfume de Letícia, sentada ao seu lado, um formidável cheiro de pétalas de rosas molhadas, como que no vinho tinto mais suave que já existiu e Letícia num estado sem igual, tão chocada quanto assustada, notava a sensível pele de Mara segurando uma taça de café e a maneira que ela a levava a boca, entrando em contato com os vermelhos lábios carnudos que se fechavam e abriam soltando sons tão doces e amáveis para ela. Rafael seguia falando sem notar a mudança no olhar das duas, ele se abria agora, dizendo que realmente se sentia um canalha por tudo aquilo, que estava arrependido, mas que não podia fazer mais nada, estava realmente apaixonado pelas duas e queria que elas entendessem a situação, que usassem da mais humana compaixão que pudessem e o julgassem como quisessem; mas caladas, elas ainda se olhavam. O bico do seio das duas moças já se enrijecia, e os pelos já se eriçavam de êxtase, e elas paradas apenas sentiam as sensações e se deixavam levar por aquela doce nuvem de encanto e libido desconhecida. Mara sentiu o cheiro da excitação de Letícia quando ela se transpôs para fora de seu corpo e umideceu a sua roupa intima, isso a elevou a um estagio maior ainda de inebriação, chegando ao ponto em que não notava mais Rafael e nem fazia mais noção de qual era o primeiro motivo de sua ida aquele café; Letícia também. E foi, justamente quando Rafael se pôs a chorar, e suplicar para que parassem de agir com tamanha frieza, e notassem o seu amor, e se pondo a mercê da cólera e da raiva das duas, que elas finalmente alcançaram o êxtase final num beijo tão sublime que naquele momento o tempo pareceu parar. Mara deixou o corpo se levar para o lado de Letícia e com os olhos fechados alcançou uma boca que já estava molhada e esperando a sua. As bocas se esfregavam na frente de Rafael que estava paralisado agora. O beijo se estendeu infinitamente na cabeça das duas, e resultou num orgasmo silencioso, prazeroso e coberto por uma divindade absurda, era como se fosse provocado por mil anjos carregando flechas e espadas carregadas de prazer. Para as duas, aquele beijo nunca terminou.

E mesmo agora, morando no Rio, as duas sentem aquela mesma sensação cada vez que as duas bocas se encontram, e quando as mão lisas e macias percorrem o corpo uma da outra, deixando seus seios róseos e rígidos, sentem o tempo parado, a espera de mais um orgasmo para voltar lentamente a contar... Para Rafael restou a tristeza de São Paulo, que acabou o vitimando de uma séria e profunda depressão fazendo-o descrer totalmente do prazer carnal, e sendo por fim, a única vitima dessa história tão prazerosa da qual, acabo de vos narrar, minha adorável leitora.

Fim.

Reny Moriarty
Enviado por Reny Moriarty em 16/04/2010
Reeditado em 20/08/2010
Código do texto: T2200673
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