NADA É POR ACASO

Juarez fazia o ultimo ano da faculdade, no curso de Engenharia Civil. Ele era daqueles alunos tidos como exemplo.Super estudioso,esforçado, inteligente e com certeza com um futuro brilhante na vida profissional.

Naquela época não existiam os computadores pessoais, muito menos internet e todas as pesquisas e estudos eram através de livros e bibliotecas.

Devido ao seu empenho e dedicação nos estudos, Juarez sabia tudo sobre engenharia civil ao ponto de discutir com professores e profissionais da área sobre projetos e cálculos.

Nas últimas provas do curso, porém, Juarez foi pego de surpresa com seu professor de Português, matéria obrigatória na época em qualquer curso superior, solicitou como prova final um trabalho de pesquisa com um tema totalmente diferente dos que habitualmente fazia.

Ao invés de pedir algo relacionado à engenharia ou construção ou algo semelhante, pediu nada mais nada menos que uma pesquisa sobre Vitor Hugo.

Mas afinal quem era esse personagem chamado Vitor Hugo que nunca ouvira falar e em que área da engenharia ele se especializou, pensou Juarez.

Mas apesar do tema ser estranho, começou sua pesquisa, e assim que soube quem era essa figura, se revoltou. Jogou os livros para o lado e foi ter com seu professor. Afinal ele teria que se explicar o porque aquele tema que nada tinha a ver com seu curso.

Chegando à faculdade, foi diretamente à sala reservada aos docentes e procurou o famigerado professor.

Diante dele, Juarez não poupou palavras para expressar sua indignação com o tema pedido. Quando o aluno acabou seu discurso de revolta, numa calma que lhe era peculiar, o professor Antonio Carlos vestindo seu costumeiro jaleco impecavelmente branco e primorosamente passado, como se estivesse acabado de sair da loja, arrumou seu grosso óculos sobre os olhos, colocou seus muitos livros de literatura que sempre os acompanhavam e que inacreditavelmente os lia todos de uma única vez, sobre a mesa da sala e falou:

- Meu jovem, se eu tivesse pedido como sempre fiz, uma matéria qualquer sobre engenharia eu não poderia lhe avaliar porque você entende como ninguém do assunto,seria assim muito fácil. Não poderia avaliar o seu desempenho, o seu poder de pesquisar. Eu quis com isso aguçar seu interesse pela pesquisa,pelo conhecimento,seu interesse pelo novo e com isso poderia lhe avaliar melhor.

- Mas o que tem isso a ver com meu curso?

- Isso se chama imprevisto, respondeu o professor. Na sua vida pessoal e principalmente na profissional você sempre vai se deparar com o novo, com o imprevisto, com situações alheias a sua vontade e que merecerão o seu empenho, sua dedicação, seu poder de pesquisa e até de improviso para enfrentá-los.

-Um dia, você entenderá tudo isso, concluiu o mestre, ajeitando seu jaleco e saindo da sala carregando os vários livros embaixo do braço.

Diante dessa conversa e vendo que não adiantara muito, Juarez começou a ler e pesquisar sobre Vitor Hugo.

Foram dias atolados em livros, com sua biografia, trecho de obras, curiosidades, recorte de jornais, enfim, tudo.

O jovem, porém a cada leitura, a cada novo dado apreciado ele mais se interessava pelo protagonista ao ponto de saber até as peculiaridades de sua vida, como romances, seus hobbies, etc.

Findo a pesquisa, Juarez entregou todo seu trabalho pesquisado ao professor Antonio que todo contente lhe fala após dar a nota máxima pela pesquisa.

- Parabéns, mais uma vez você não me decepcionou. Eu sabia que você iria entender fazer o melhor.

Juarez se formou naquele ano e apesar de já trabalhar numa empresa de engenharia como estagiário queria mais.

Um dia, porém uma empresa multinacional sediada na França o seleciona para participar do processo seletivo da empresa.

A empresa estava à procura de um jovem recém formado e talentoso para trabalhar em Paris, na sede da empresa chefiando um departamento. Era um sonho.

Um sonho muito distante, pois haviam centenas de concorrentes pleiteando a mesma vaga. Pessoas como ele, com a mesma capacidade e experiência.

Lembrou-se então das palavras do professor Antonio Carlos, aquele que fora um dia seu professor de português na faculdade quando ele falava em desafio, em empenho e improviso.

Como era de se esperar, Juarez passou em quase todos os testes práticos onde se exigia conhecimento de engenharia e cálculos, nas entrevistas, psicotécnicos, eliminando assim dezenas de concorrentes.

Mas faltava o último teste e esse era segredo, ninguém sabia do que se tratava.

Juarez no dia do seu teste final, entra numa sala onde parecia um auditório, todos os concorrentes que restaram sentaram nas primeiras cadeiras e os avaliadores nas seguintes e apesar do ambiente tenso e misterioso estava calmo.

Logo um pensamento veio-lhe a mente: Será esse o imprevisto que aquele malandro do professor se referia?

Um a um começaram a ser chamados no palco e diante do púlpito iriam respondendo perguntas elaboradas pelos avaliadores e logo que se apresentavam e respondiam passavam para a fase seguinte ou já eram descartados ali mesmo, sem ao menos terem o direito de apreciar a apresentação dos demais.

Juarez passou em mais um, agora faltava apenas a ultima etapa desse ultimo teste.

Aquele que estava comandando o teste então fala aos pretendentes que sobraram:

-Amigos, vocês já são vencedores por terem chegado até aqui, mas infelizmente a vaga somente será preenchida por um de vocês e será o melhor dos melhores com certeza.

- Vamos chamar um a um aqui novamente no palco e o candidato terá que falar sobre um determinado assunto. Esse tema será o mesmo para todos, portanto vencerá o melhor, mas antes quero dizer algumas coisas sobre nossa empresa. Fez então um breve relato sobre a constituição da mesma,suas origens,faturamento, posição dentro do mercado,etc, e por fim,concluiu:

- Nossa empresa nasceu numa pequena cidade da França, a mesma cidade de um grande homem, um grande artista, um poeta e escritor, e é com grande orgulho que essa pessoa tornou-se o símbolo e o patrono dessa construtora.

- O tema que vocês irão abordar e dissertar para nós é justamente esse.

E continuou:

-Fale tudo o que sabe sobre o escritor e poeta, Vitor Hugo.

Juarez, simplesmente sorriu e pensou:

Obrigado professor! ...

Carlos Alberto Omena
Enviado por Carlos Alberto Omena em 19/04/2010
Código do texto: T2206152
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